Quinta-feira, 6 de Outubro de 2005
A razão exponencial para a resolução rápida e eficaz do problema da interrupção voluntária da gravidez não é só a libertação da mulher de um fundamentalismo de catecismo que infelizmente ainda vigora na atravancada mentalidade portuguesa e que leva a mulher a ser flagelada nos pelourinhos nacionais formatados ainda por uma legislação obsoleta e medieval, mas também e fundamentalmente o imperativo acertar da evolução do mental colectivo de um País que com quase um século de historia e pioneiro em questões fulcrais como a erradicação da escravatura, insiste no sucessivo endossar e "folclorizar" de um problema tornando a discussão em torno deste em um palrar burlesco, primário, desprovido de actualidade e de bom senso civilizacional.
O presidente da Republica, agora em final de mandato endossa a decisão para o tribunal constitucional reiterando a sua posição de algum tempo a esta parte de dignitário preocupado, protocolar, as vezes demasiado monarquicamente simbólico que convenientemente e comodamente prudente lavando as mãos como Pilatos alimenta uma manobra de diversão politica de direita que visa o entretenimento politico, o obscurantismo de mentalidades e ao mesmo tempo relega para segundo plano questões emergentes como o caos instalado na economia, emprego e educação.
A proposta galvanizada pelos grupos parlamentares do PS e Bloco de Esquerda paradoxalmente não obtêm o conveniente feed back destes quando se trata de defenderem as suas posições nesta matéria.
O Partido Socialista vampirizou esta questão apenas e só para garantir uma simbiose envenenada e o apoio de um espectro de esquerda que mais desenvolto se deixou entretanto adormecer pelos sucessivos espectáculos de variedades politicas perpetuados pelo governo de virtual esquerda e real direita de José Sócrates.
O Bloco de Esquerda que na contradição de possuir um candidato Presidencial e que na dialéctica de Francisco Louça mete a viola no saco ao afirmar que Sampaio foi prudente, se deixa quedar na amornada periferia da questão.
Até quando o bailarico da interrupção voluntária da gravidez.
Até quando o embaraço até dos magistrados ao lidar com esta vergonha.
Até quando o obscurantismo medieval instalado e incrustado no nosso mental colectivo e que afecta de modo colateral a mentalidade de um País que com o Passado que tem, envergonha-se infelizmente do Presente que possui.
José António Santos