Segunda-feira, 5 de Junho de 2006
1. No jogo da selecção com o Luxemburgo, Cristiano Ronaldo mostrou novamente o nível de QI que tem dentro da cabeça: C.R. é um híbrido, uma mistura de arruaceiro de subúrbio com jogador de futebol que, não sendo uma mistura perfeita, existe com alguma frequência no futebol português.
Mister Scolari, também ele um híbrido, mistura da favela Rocinha com o bairro Lebon, com a sua famosa arte alquimista, misturou o fogo com a água e fez o seguinte comentário (cito de memória): daqui para a frente os jogadores adversários ficam a saber com o que contam quando carregarem duro sobre o C.R. ... e o C.R. tem que ter a cabeça fria porque pode prejudicar a equipa.
Um problema de temperatura, portando.
No Luxemburgo vivem e trabalham muitos milhares de emigrantes portugue-
ses, restando saber se os luxemburgueses gostaram do cartão de visita deixado por C.R.
2. Os deputados resolveram pregar mais um prego no prestigio da Assembleia da República: ajeitaram a agenda dos trabalhos parlamentares para poderem assistir à transmissão de um jogo da selecção.
Quando o mais importante órgão se soberania e de representação do povo dá exemplos destes, a nação deve segui-los. É de esperar que os diversos organismo do Estado e o sector privado sigam o exemplo, que não deixará de contribuir para o aumento da competitividade da nossa economia.
A sugestão feita por João Pereira Coutinho (Expresso de 4 de Junho) de se montar um ecrã gigante na sala do plenário poderá ser completada com tendinhas de comes e bebes, para os deputados desfrutarem de maior comodidade. Manuel Alegre poderá liderar a claque de apoio à selecção e Jaime Gama organizar a contabilidade das apostas do resultado.
É nesta ocasiões que existe maior consonância entre os deputados e os seus representados. Se o povo é feliz com o futebol, se o futebol transporta o povo ao paraíso, os deputados reflectem essa felicidade: as agruras da vida e da crise podem esperar que o campeonato termine, e se Portugal ganhar ainda existira uma moratória de felicidade.
João Gomes Gonçalves