Terça-feira, 12 de Abril de 2005
Foi confrangedor, senão até comovente, o discurso de Santana Lopes no XVII Congresso do PSD. Confrange e chega até a comover a atitude de certos políticos que usam todos os meios ao seu dispor para fazer valer os seus pontos de vista, para justificar o injustificável, através de uma manobra de "rewind" da recente história do panorama político nacional, que culminou com a maioria absoluta do PS e a subsequente eleição de novo líder para o PSD.
Com a vitória de Marques Mendes, os congressistas preteriram a candidatura de Filipe Menezes que, conforme revelam as intenções de voto, tudo fez para reverter a situação a seu favor, desde a colagem ao subscritor da principal moção apresentada, António Borges, passando pelo acenar com o lenço branco à tripulação da candidatura adversária até à utilisação abusiva e perversa do nome de Cavaco Silva, tudo fez para a sua redenção.
O "Sr. Anibal" esteve presente nos discursos dos apoiantes de Filipe Menezes; o militante que há menos de dois meses atrás deveria ter sido banido do partido através de expulsão, terá agora contribuído para a transferência de votos, que, à última da hora, se verificou, da candidatura de Marques Mendes para a de Filipe Menezes.
Pela leitura dos resultados, antevê-se que a liderança de Marques Mendes terá o cunho da transição. A vontade expressa através dos votos da moção perdedora é ainda significativa para que Marques Mendes possa tranquilamente dedicar-se à construção de uma oposição objectivamente pensada, no sentido de oferecer políticas alternativas consistentes que, de algum modo, possam vir a pôr em causa as implementadas pelo executivo vigente. A ameaça à sua liderança virá do interior do próprio partido, em que "os que vão andar por aí" tudo farão para reaver o poder.
O primeiro teste pelo qual terá de passar, terá necessariamente a ver com as eleições autárquicas. Quanto a mim, priorizar a realização do Referendo sobre a Constituição Europeia, remetendo para segundo plano o Referendo sobre a lei da interrupção voluntária da gravidez, é um erro político que terá uma repercussão negativa em matéria de intenções de voto desfavoráveis a essa temática. É forçoso resolver primeiramente os problemas internos do país, e só depois debruçarmo-nos sobre a problemática da Constituição Europeia , cujo Referendo, em meu entender, deveria ser efectuado em conjunto com as eleições presidenciais.
Os dois principais candidatos à Presidência da República, aqueles que vierem a ser apoiados pelas duas maiores forças parlamentares, são ambos a favor do "sim" ao Referendo sobre a Constituição Europeia. Partindo do princípio de que haverá um forte consenso por parte do eleitorado quanto à escolha do candidato presidencial, aproveitar-se-iam os debates para, de uma maneira concertada e com o apoio de ambos, se discutirem os parâmetros em que se move a alteração à presente lei constitucional.
Fernanda Valente