Quinta-feira, 29 de Abril de 2004

Luís Leonardo - "Impasses" ou apologia da guerra (II)

“É sobretudo o ódio de partido
Que ao extremo horror as coisas leva”
Goethe

Vimos como as acusações que aos outros (todos os que não estão de acordo com
eles) fazem lhes assentam por inteiro. E correram a esgrimir argumentos em
defesa do “Eixo do Bem” quando a procissão ainda ia no adro e a paixão (ou o
entusiasmo) a todos turvava o olhar. A eles também. Por isso a páginas 68 e
69 inventam os argumentos “gambuzinos”da Jerusalém celeste e da caixa de
Pandora e projectam o solipsismo de que são vítimas nos que eles acusam de
não aprender com os factos apelidando-os de obscenos. Mais uma vez, deveriam
tomar para si o conselho dado a outrem: “A prudência nunca fez mal a
ninguém”, porque se queriam provar a razão argumentando com a forma positiva
como segundo eles a campanha militar tinha corrido, com o contentamento e
entusiasmo dos iraquianos expresso nas manifestações que”foram tudo menos
irrelevantes”, aí têm a realidade presente, que como aos “outros” nada lhes
ensinará. Com que seriedade são convocados Platão, Locke, Leibniz, Diderot ,
Hume e Kant como testemunhas abonatórias de um entusiasmo positivo, de que
se arrogam os autores e dos que partilham as suas teses a favor da guerra?
Pelo que conheço de Kant –preconizador de uma ordem de direito
internacional, acima das nações, o Kant da ‘Paz Perpétua’ – não iria ficar
nada satisfeito.
Como dizem os autores “O problema com as soluções verbais é de uma
simplicidade desarmante: é que não são soluções”e eles que criticam os
dualismos primários inventam de seguida um: entusiasmo positivo (o
deles)/entusiasmo negativo (o dos outros) . E este último, infalivelmente
perigoso, engendra-se no fenómeno da má-fé. Fenómeno sobre que discorrem na
página 82 e seguintes e cuja leitura insistentemente recomendada por J.
Pacheco Pereira,também, na minha modéstia, se me é permitido, igualmente,
recomendo. Não esquecendo que “o homem de má fé mente-se a si mesmo” que
como sabemos é uma afirmação já anteriormente feita por Nietzsche. Mas qual
o objectivo dos autores ao fazerem toda esta análise? Mostrar que os que se
opõem à guerra só podem estar de má fé, que é injusto o que se diz acerca do
presidente Bush e por extensão dos americanos que são ‘além de gordos,
particularmente ignorantes’. Curioso é que na página 64 os prémios Nobel
americanos sirvam para demonstrar a sabedoria dos americanos e uma página a
seguir, depois de argumentar que para se ser presidente dos E.U.A. se tem de
ter “mais do que razoável perspicácia e fortíssimas qualidades de carácter”,
seja desqualificado “um escritor que, passados os oitenta anos, perdeu as
ilusões sobre Fidel Castro”. Há nomes que eles têm medo de pronunciar:
trata-se de José Saramago!
Depois de se terem sentado à mesa de Sartre, dele colhendo a análise
filosófica e psicológica que faz da má-fé, caem-lhe em cima acusando-o de
ser : “um dos mais exímios praticantes” da má fé e vão buscar tudo quanto o
possa tornar odioso como se fosse portador de um vírus letal.
A leitura deste livro pouco adianta, pouco atrasa: aos que forem dos
“nossos”, do “eixo do bem”, presumivelmente, consolidará as suas posições
com resultado idêntico para “os outros”, os “do eixo do mal”. Raios de
linguagem esta, não é? Não é nova. Leia-se “De Praescriptione Hereticorum”
(direito de prescrição contra os herejes) de Tertuliano que outros maniqueus
estão de volta.
Aos que têm dificuldade em distanciar-se (por mor do entusiasmo
incontrolado) aconselha-se a leitura do capítulo X da obra de Konrad Lorenz
– “A agressão – uma história do mal”, porque, estudando o comportamento dos
ratos, compreenderemos desapaixonadamente o comportamento dos homens. Com
uma vantagem: não insultaremos os ratos.
Luís Leonardo
publicado por quadratura do círculo às 13:15
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Telmo Silva - Contra nova basílica

É do conhecimento de todos (pelo menos da maioria) que está a ser
construída uma basílica subterrânea junto ao Santuário de Fátima. As
dimensões da basílica são enormes. Se juntarmos a este facto outros como ela
ser subterrânea e só estar pronta daqui a 4 anos, logo vemos a grandiosidade
da obra. Mas eu não estou a escrever este texto para me congratular com esta
construção mas sim para condená-la. A única coisa que me vem à cabeça quando
penso nesta basílica são todas as pessoas, principalmente crianças, que
passam fome e vivem na mais extrema miséria em todos os cantos do mundo.
Aqui mesmo, em Portugal, vemos todos os dias na televisão, histórias de
pessoas desempregadas, à beira do desespero por não terem condições de
sustentar os seus filhos menores, fartos de procurar trabalho e ouvir sempre
a mesma resposta... - e a Igreja que defende que devemos partilhar o nosso pão
com o próximo, ajudar quem precisa, etc., vai fazer o quê? Construir uma
basílica de que nem me atrevo a dizer o orçamento (vários milhões de euros).
Mas que forma inteligente de acabar com a miséria! Uma ideia absolutamente
fantástica! Por favor, isto não passa de um puro acto de exibicionismo!
Mas afinal o catolicismo é uma religião ou uma empresa à procura do poder?
Até já houve quem me dissesse que a razão desta obra era obter mais espaço
para dias como o 13 de Maio, mas agora eu pergunto: qual deveria ser a
prioridade da Igreja? Ter bastante espaço para que os peregrinos possam
assistir a uma missa ou "tentar" acabar com a miséria no mundo?
Atenção, eu apesar de estar a criticar a Igreja, quero deixar claro que
acredito em Deus, rezo todos os dias e não tenho qualquer problema em
afirmar isto Também já acreditei na Igreja, há alguns anos atrás, no meu
tempo de ingenuidade e ainda quero voltar a acreditar, mas para isso preciso
de um motivo, motivo esse que parece tardar a aparecer...
Telmo Silva
publicado por quadratura do círculo às 13:09
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Sexta-feira, 23 de Abril de 2004

REVISÃO CONSTITUCIONAL

Certamente debateremos o tema revisão constitucional no próximo programa. Para facilitar o acesso ao texto integral das alterações aprovadas coloquei-as online.
Reina uma certa confusão quanto ao que foi aprovado (além da normal divergência que levou alguns partidos a votar contra.
Para aceder ao texto sigam o link
http://www.ps.parlamento.pt/files/crpvi.htm
Boa leitura e bom 25 de Abril!
José Magalhães
publicado por quadratura do círculo às 18:09
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Terça-feira, 20 de Abril de 2004

Luís Leonardo - "Impasses" ou apologia da guerra (I)

Como aproveito os períodos livres de actividades profissionais para realizar
leituras, calhou que durante a semana santa li, a conselho publicitado de
José Pacheco Pereira, o livro ‘Impasses’ da autoria de Fernando Gil, Paulo
Tunhas e Danièle Cohn.
Tenho como critério pessoal de que um livro é bom se me faz bem. Entendo que
um livro me faz bem quando difusamente se encontram plasmados sentimentos
que aprovamos nos nossos semelhantes; quando em quem escreve vemos mais um
desejo de aprender do que de ensinar; quando o número das perguntas supera o
número das respostas; quando sentimos como leitores que não nos querem
convencer à força; quando, em questões que dizem respeito a todos se procura
entender aqueles com quem não estamos de acordo.
Li e fiquei desgostoso. Também pelo aconselhante, dada a estima e
consideração que por ele tenho. Nem sequer poderei pensar que se tratou de
um conselho leviano originado numa leitura superficial dada a relevância que
lhe tem dado no Abrupto.
O titulo “Impasses”, sugeria-me o possível esclarecimento sobre questões
essenciais dos nossos dias, se quiséssemos mais filosoficamente da questão
dos ‘Indecindíveis’, mas percorridas uma dezena de páginas começámos a ver
que se tratava sobretudo de uma apologia da administração de Bush. Não
podemos com isto dizer que foi um trabalho encomendado, ou que quiseram com
o título encobrir o verdadeiro objecto e objectivo do livro.
Vejamos algumas citações:
“Sem esquecer que o DI não é garantia automática de virtude, os exemplos de
crimes nele fundados abundam. E também exemplos de farsas.”
E se abolíssemos todas as leis só porque não funcionam a nosso favor?
Mas mais adiante o DI passou de um ente deficiente a um ente inexistente:
«Mas o DI como fantasmaticamente hoje em dia se concebe, nunca, nem mesmo
remotamente, existiu», pg. 65, para concluir, de seguida, que « A ideia segundo
a qual os EUA, “unilateralmente” teriam dado cabo do DI é fantasista para
além de qualquer medida”.
Um pouco mais à frente, depois de se questionar se o voto dos Estados na ONU
devem valer o mesmo, interroga-se e responde: « Mas então qual é que é o
significado do DI da ONU? Limitadíssimo» Para concluir, deste modo, que os
EUA não violaram a lei «porque, pura e simplesmente, não havia grande coisa
a violar».
Segundo a interpretação dos autores, Kant, em muitos aspectos prolonga
Hobbes e « as relações entre Estados sempre foram, e continuam a ser, no
essencial hobbesianas: canhões apontados às fronteiras uns dos outros». É
deplorável o facto, concordo com os autores. Mas tal não pode constituir
argumento, porque nesse caso só nos resta a lei da selva e essa nem para os
fortes é boa.
Sobre as ADM, nunca Platão ou Bergson sonhariam que viessem a ser chamados
ao caso, com desconsideração para Parménides que, como bem sabem os autores,
foi o inaugurador do discurso do ser e do não ser.
E Leibniz também é convocado para provar a justeza da guerra: “ as presunções
passam por provas inteiras provisoriamente, isto é, enquanto o contrário não
é provado”. Eu não sei em que contexto Leibniz faz esta afirmação. Mas
colocado perante o facto em causa como decidiria?
No capítulo ‘Argumentos e entusiasmos’ parece-nos haver mais entusiasmos que
argumentos. Começam por coligir os argumentos dos adversários, fazendo uma
selecção dos mais facilmente rebatíveis em função de uma conclusão que já
preexiste a todo o debate.
Sobre o insulto: quem insulta quem? Como afirmam os autores, “É sempre triste
verificar os sinais de empobrecimento da linguagem na nossa sociedade”. Mesmo
que essa linguagem se envernize, se adorne e citando se adapte e se expresse
em francês ‘Tu commences à m’embêter avec ton Être Suprême”, não deixa de
ser um insulto a Chirac, apesar de não me entusiasmar. Não podemos ser
contra o insulto a Bush e a favor do insulto a Chirac e a outros. Este é o
problema dos autores: Podem sempre ser acusados daquilo que são acusadores.
Alguém que defina ‘intelectual garrido’ à sua maneira e ficam caçados.
Exemplo de um bom argumento: “Quanto à censura feita aos EUA de intervirem
tarde e a más horas durante a Segunda Grande Guerra, o melhor é guardar o
silêncio: há livros, ao dispor de todos, que explicam bem as coisas”
Os autores fazem fatos para outrem que lhes assentam na perfeição, como:
“O ridículo possui uma propriedade particular: diz tudo sobre si mesmo”
Luís Leonardo
publicado por quadratura do círculo às 18:28
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Gabriel Rafael Guerra - Durão Barroso e Espanha

Veio o Dr. Durão Barroso acusar (implicitamente) o recente eleito
Primeiro-Ministro de Espanha de "desertor".
(Vide TSF-online de 16 de Abril 2004: Para Durão Barroso, «a situação em Espanha não é mais segura do que a situação em Portugal. Pelo contrário, considero que é muito maior o risco em Espanha do que em Portugal». O primeiro-ministro disse ainda que «não se compra segurança com posições dúbias», nem «com a tentativa de ceder a qualquer forma de terrorismo. Durão Barroso considerou também que qualquer país com forças de segurança no Iraque não pode ceder a chantagens e que quem o fizer está a desertar da
guerra contra o terrorismo.Era a melhor notícia que podíamos dar ao
terrorismo global era se amanhã os países ocidentais que estão comprometidos
no Iraque resolvessem desertar», disse.» )
Esta acusação é grave. E grave porque vinda precisamente de alguém que ocupa
o mesmo grau de responsabilidade na governação de um país vizinho.
Acontece que este país é o único que tem fronteiras territoriais com o nosso,
e, logo, ser de primordial importância para a nossa Defesa Nacional. Deste
modo, é um novo precedente que foi criado ao arrepio de todo o bom senso e em
clara violação do Direito Internacional que não permite que a soberania ou
decisões que só a ela dizem respeito (como o caso da deserção, i.e., aqui,
neste contexto, significando o empenhamento (ou não) de um país (a Espanha) num
conflito) sejam discutidos, quando por outro país, fora dos âmbitos legais
permitidos pela ONU.
Mais grave ainda, e aqui numa postura claramente anti-democrática, esta
acusação é formulada contra um governo que acaba de ser eleito com base
precisamente nesta promessa eleitoral. Sendo assim, é todo o colectivo humano
de um país vizinho que está a ser acusado de deserção, e posto em causa os
próprios fundamentos reguladores da (sua, e não só) democracia
representativa. Chegou-se, portanto, argumentativamente, ao cúmulo do
ridículo e do absurdo. Ao grau zero da (in)coerência.
No entanto, no contexto grave em que estamos, este ridículo é o indício de
uma falha grave na postura ou carácter de quem já não tem argumentos e
agita-se, preocupado que está em manter as aparências de quem detém a razão
(e a já perdeu).
Cabe então, colocar duas questões (a primeira sobre o ridículo, a segunda
sobre os fundamentos desta postura):
1º) Se, amanhã, por decisão do Presidente da República fosse dissolvida a
Assembleia da República e convocada novas eleições e acontecesse o mesmo que
em Espanha, como se sentiriam os portugueses, se, por exemplo, o nosso novo
Primeiro-Ministro fosse acusado de "desertor", e a nossa sociedade, como um
todo, de "cobarde", por (como exemplo) Tony Blair (assumindo que tomasse a
mesma atitude ridícula que o nosso PM tomou face à Espanha e aos espanhois)?
2º) Assumida que está (de uma forma veemente) a negação da supremacia do
conceito de Democracia sobre o conceito de Defesa Nacional (pois fala-se em
«guerra»; mas qual «guerra» ao certo? Contra o Iraque?! E sob que moldes
internacionais? Legítimos?), será que não é o próprio quadro legal da
nossa Constituição (o seu espírito e letra) que está aqui a ser
deslegitimizado? E se sim, não assiste ao Tribunal Constitucional deslegitimizar
quem o deslegimitiza?
Se for provado que não havia qualquer fundamento, ou fundo de verdade, sobre a
questão das armas de destruição maciça (pela justiça norte-americana), se
for provado que o ataque contra ao Iraque foi um acto de ingerência puro e
duro, não cabe então aqui pedir (a quem assiste defender no nosso país a
legimitidade e a integridade da mesma) que o Dr. Durão Barroso seja impedido
de continuar nas suas funções (empeachment) e, (se com)provada a mentira,
demitido?
Tudo parece (perigosamente) apontar para isso. E então não ficará mais claro
(ao entendimento lúcido) que a (verdadeira) razão de ser desta nova postura,
já abertamente (e não, veladamente) desabrida, senão arrogante, parece
indiciar, não tanto um voluntarismo de contornos cómicos (ou absurdos), mas
bem mais sim, já a marca (pessoal) de uma máscara (trágico-cómica) prestes
a cair?
Gabriel Rafael Guerra
publicado por quadratura do círculo às 17:50
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José Monteiro - "Paixão" e Iraque

Com o tema “A Paixão”, o filme da temporada sobre Cristo, foi possível uma conversa cordata e civilizada, ou não estivessem a falar de acontecimentos de há dois séculos atrás, aparentemente inócuos hoje para nós.
Como os participantes irão certamente regressar ao tema Iraque, talvez possam abordar o significado da Paixão/Tortura de JC sob um novo ângulo. O que se passa presentemente no Iraque com o seu povo e que teve a sua expressão máxima nos dias, noites e semanas de bombardeamentos sobre as cidades iraquianas há um ano, como uma real e expressiva manifestação da Paixão de Cristo e do Homem que ele passou a representar.
Hoje com os soldados de Bush, ontem com os de Sadam (sobre os curdos) ou de Sharon (sobre os campos do Líbano).
Se a minha curta experiência de um ataque de morteiros durante a noite, lançado de uma curta distância da minha companhia de cem pára-quedistas instalada sob um arvoredo do norte de Moçambique, ficou para sempre registada pelo sentir de um perigo mortal associado a uma total impotência, minutos que parecem horas, entre a saída da granada e o seu silvo à chegada e explosão nas imediações, que dizer da população de Bagdad. A Bagdad das famílias, das pessoas, homens, mulheres e crianças sujeitas aos silvos e estrondos das bombas e mísseis lançados sobre as suas cabeças. Que absurdo é este que deixa passar os momentos de agir – Ruanda, Curdos, Israel/Palestina – sobre os responsáveis instalados, para agir mais tarde e tarde demais com os efeitos que se sabe? Sujeitar as populações e os povos anónimos a quê senão ao sacrifício de uma Paixão de Cristo? Tanto se fala na dignidade humana - onde ficou a dignidade das populações do Iraque quando Bush não resistiu a descarregar ali a cólera da sua impotência perante Bin Laden e &? Dignidade, creio tê-la vislumbrado nas expressões dos macondes da guerrilha a partir do momento em que passaram a ter uma espingarda para nos combater. Receio que seja isso, algo como alguma dignidade que os miseráveis populares iraquianos tenham encontrado quando se revoltam contra os estrangeiros. Quem no Iraque chamou os americanos? Interessante falar na cobardia da guerrilha ou mesmo do terrorismo (imperdoável no método BL), qual a coragem dos pilotos americanos ou dos seus guerreiros resguardados nos carros de combate e nas suas fortalezas?
O absurdo e a estupidez humana, como comportamentos habituais dos poderes instalados na defesa dos seus proclamados valores, no esquecimento da dignidade e felicidade devidas aos comuns dos mortais. Claro que acabou entretanto a proibição de venda de armas ao Iraque. Agora para defesa interna, em breve para a defesa externa, quanto mais numerosas, sofisticadas e caras, melhor. Uma excelente forma de poder proporcionar meios de destruição maciça a pequenos, jovens e pobres países do antigo terceiro mundo. Para usarem entre eles, naturalmente.
Repete-se o discurso do tribuno Tiberius Gracchus (13 AC), perante a turbulência vinda de uma multidão de escravos: “Os nossos generais incitam-vos a lutar pelos templos e túmulos dos vossos antepassados. É um apelo inútil e enganador. Vocês não têm altares dos vossos pais, não têm túmulos ancestrais, vocês não têm nada. Vós não combateis e não morreis senão para assegurar o luxo e a riqueza dos outros”.
Que diria hoje JC, que se pronunciou sobre as crianças, sobre Ali, o menino do Iraque sem braços?
2004 DC, a Paixão continua, entre nós ou ao nosso lado e bem real.
José Monteiro





publicado por quadratura do círculo às 17:30
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Maria de Lurdes Neves - Sobre Ensaio de Saramago

Devo dizer que estranhei os comentários de Pacheco Pereira acerca do livro de José Saramago. Vindos de uma pessoa inteligente e culta como é, sem dúvida, esperei que conseguisse mais do que proferir uma série de afirmações tão desagradáveis acerca do autor do Ensaio sobre a Lucidez.
Que o livro aparece num momento e de forma (sessões de lançamento e entrevistas dadas aos meios de comunicação social) pouco oportuno para os partidos no poder e para aquele que tem hipóteses de chegar ao poder- o que de resto José Saramago bem sabe - é uma verdade. Daí que a obra não pode, do meu ponto de vista, ser apreciada estritamente como uma obra literária.
Contudo, ainda que seja intenção do autor agitar as águas, mais do que simplesmente publicar outro livro, Pacheco Pereira não devia esquecer que é nisto que se consubstancia a liberdade e a democracia. A liberdade de expressão não pode permitir-se apenas quando não é incómoda para o poder. Ela deve existir mesmo quando existe o risco de pôr '' os papalvos'' a pensar ! E se calhar é mesmo altura de pôr '' os papalvos '' a pensar.
Possivelmente José Saramago nunca poderia publicar este livro em Cuba mas será que o sentido democratico que se adivinhou nos comentários de Pacheco Pereira, lhe permitiriam publicá-lo em Portugall?
Por último gostaria de dizer a Pacheco Pereira que, se bem o entendi, a democracia, do seu ponto de vista, se esgota no direito de, de tempos a tempos, retirar um Partido do poder, através do exercício do direito de voto, substituindo-o por outro. Ora, este entendimento servirá sem dúvida, aquela classe que vive da militancia nos partidos que alternam, negoceiam, dividem entre si o poder, mas é demasiado estreita para aquela outra classe muito mais numerosa que só é lembrada em vésperas de eleições.
Maria de Lurdes Neves
publicado por quadratura do círculo às 17:19
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Segunda-feira, 12 de Abril de 2004

Emília Mahú - A Paixão de Cristo e novo horário

Em primeiro lugar apresento os meus parabéns pelo vosso magnífico programa!
Já vos escutava no Flashback e agora continuo vossa (agora) telespectadora assídua, desde que.... não me alterem o programa para horas impróprias para quem tem de se levantar cedo!!! Que seja à meia-noite eu admito (que remédio!!!) desde que se registe novamente a transmissão em outro horário mais acessível para "pessoas madrugadoras" como eu!
E porque não mais cedo ao sábado? As noites de sábado na televisão são uma perfeita sensaborrice para quem não gosta de telenovelas (fiquei "zangada" com as telenovelas desde que "tiraram" o "Olhar da Serpente" do horário dito normal).
E achei fantástico o programa de ontem sobre a "Paixão de Cristo" (embora eu concordasse com o Dr. António Lobo Xavier nas suas opiniões sobre o filme - e achei magnífica a representação da actriz que faz de Maria, Mãe de Cristo - o olhar dela e sua própria atitude fizeram-me chorar o filme todo! Que Dor e ao mesmo tempo Que Amor Infinito!).... É sempre pena é não ser mais tempo! Aquela horinha passa tão depressa!!!
Quanto aos temas ou à vossa forma de estar em programa, continuem - são essas questões que fazem do vosso programa um sucesso, pelo menos para mim!
Bem hajam por estarem aí!
Emília Mahú
publicado por quadratura do círculo às 19:08
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Gonçalo Caeiro - Sobre A Paixão de Cristo

(Escrevo) a ver o vosso programa (11/04/2004), do qual estou a
gostar, e deixem-me dizer antes de tudo que ainda não vi o filme "A Paixão de Cristo" (e que também não é a minha primeira prioridade).
O que acho fantástico é a polémica que o filme está a levantar. É (quase - digo quase para não ferir susceptibilidades aos mais cépticos) incontestável que Cristo foi crucificado e segundo as formas e métodos tal como estão descritos no filme. O que não percebo é a discussão em redor da violência, ou do grau da violência retratada. Como se a fé de
algum cristão dependesse deste filme ou se algum ateu se vá converter por
causa deste filme. Não será a violência que ocorreu recentemente no
Iraque com os quatro jornalistas de magnitude de várias ordens de
grandeza superiores àquela retratada no filme?
O meu comentário, e triste, é de que este filme é tal e qual uma novela
futebolistica, do qual já se previa polémica, e de que tanto a indústria
e o povo se deleitam em debates escusados (como o próprio tempo de
antena na Quadradura do Circulo o demonstra). De resto, como em muitas
outras coisas, existem muitas opiniões (tanto de cristãos como de não
cristãos), mas alguém leu os textos históricos, os testamentos? Quantas
pessoas estão de facto aptas a julgar o precisão do retrato histórico do
filme ?
Para mim, o filme, este filme, é apenas isso, um filme. Alías, é isso que
deve ser. Neste caso concreto dura pouco mais de uma hora e meia e à
semelhança de um jogo de futebol é entretenimento puro, desenganem-se do
contrário. Qualquer tentativa de fazer este filme algo mais do que isso
apenas serve o propósito idiota (ou outro qualquer) de tentar iniciar
fricção desnecessária e virtual entre cristãos e judeus. Mas lá está, o
futebol também é uma religião para alguns e movimenta multidões...

...A seguir ao vosso programa e em apenas 2 minutos: os 3 japoneses podem
morrer, 13 pessoas morreram nas estradas portuguesas, um heli dos EUA foi
abatido e morreram os 2 pilotos, uma coluna dos EUA foi atacada e
morreram os militares e houve qualquer coisa sobre 2 alemães que também
foram assassinados.

A polémica gerou-se porque se especulou que poderia haver polémica. Houve
uma polémica sobre se o filme era ou não polémico. Como diria
Astérix: "estes romanos são loucos".
Gonçalo Caeiro

publicado por quadratura do círculo às 19:03
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Rui Silva - Como Passar Mensagens

A Quadratura do Círculo parece-me, um local adequado para meditar e aplicar as considerações que a seguir descrevo:
Parece que o mundo entrou em paranóia ou, pelo menos a comunicação social dá-nos essa ideia.
Parece que a sociedade perdeu o bom senso.
Parece que o homem, de repente, retornou à situação animalesca primária.
Centremo-nos no caso da sociedade portuguesa, já por si um bom exemplo da "irracionalidade" crescente.
Temas como a sinistralidade, a violência sobre o pessoal de saúde (assunto novo nos "media"), a violência doméstica, a violência verbal na política e na sociedade, o desemprego, a Sida, etc., são abertura de "telejornais", de noticiários radiofónicos, de primeiras páginas escritas e de comentários avulso.
Em face deste panorama adivinha-se, quando se não sente, que algo vai mal (muito mal) neste rectângulo à beira mar plantado.
Tudo o que havia para dizer, foi dito.
Correram rios de tinta e milhões de palavras foram usadas. E, pelo que se vê, não foram suficientes.
Isto leva-me a pensar que, a maneira como os temas foram e são abordados está errada.
Só pode ser, profundamente errada.
A mensagem sobre cada um dos temas mencionados é sempre feita em discurso com destinatário despersonalizado, massificado, isto é, para todas as pessoas em geral.
É passada como a confirmar o dito popular, que só acontece aos outros.
Os outros, nunca eu.
Talvez se aqueles que podem mover opiniões (e há muitas personalidades e instituições que o conseguem), meditassem um pouco sobre o que dizem, como o dizem e, como o fazem, pudessem contribuir para uma melhoria das coisas. Talvez pudessem falar e agir para cada um de nós em particular, não para todos em geral. Talvez conseguissem não politizar (talvez a palavra mais correcta fosse "partidarizar") os assuntos, mas antes, darem-lhe um carácter humano e "terra a terra", para que nós, os outros "eus", conseguíssemos perceber melhor do que se está a falar.
Rui Silva
publicado por quadratura do círculo às 18:45
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