Domingo, 27 de Junho de 2004

BOA VIAGEM, DURÃO; AQUI MANDAM OS QUE CÁ ESTÃO!

DURÃO MENTIU...
Pelo que li no ?Abrupto?, Pacheco Pereira ficou tão estupefacto como eu quando descobriu que o mesmo Durão que víramos jurar não ser candidato a Presidente da Comissão afinal negociava nesse preciso momento ( secretamente) o consenso dos outros 24 (o 25º é ele próprio!).
Os racionalíssimos argumentos que ambos esgrimimos na SIC, às 11h, assentavam no pressuposto errado de que Durão não abortaria o mandato a meio do jogo, no rescaldo de uma banhada eleitoral.
O embaixador JPP tem boa justificação: além da razão, tinha informações de ?fonte altíssima? que negavam a pés juntos tal hipótese.Eu tinha exactamente as opostas (de boa fonte que conversara com o PM durante horas!), mas cometi o pecado da soberba racional e ?sendo desconfiado por natureza ? por uma vez acreditei que Durão não ousaria mentir ao país. Ousou.
Durão tem altas probabilidades de singrar no mundo em que vivemos: simula e mente com profissionalismo e sem tremer. Na realidade não teme que quem quer que seja lhe vá à mão. Sabe que enquanto mandar no partido é monarca absoluto, não tem órgãos sociais a consultar, nem tem de responder pelas consequências.

UM À VONTADE INSULTUOSO

Barroso também subestima grossamente os opositores e trata o Presidente da República com desdém dando por adquirido que o PR, sob pressão, fará o que lhe for pedido, carimbando nomeações sem olhar os candidatos. Subitamente, os cidadãos vêem confirmado o que mais detestam no actual funcionamento do sistema político: não há compromissos eleitorais que não possam ser desditos sem explicações, as mudanças de Governo são debatidas em salas fechadas sem participação das estruturas partidárias nem um ai aos cidadãos.Tudo em ?silêncios de Estado?, comunicados crípticos de 4 linhas, declarações sucintas chutando para momentos ulteriores as fundamentações (de soluções não claras).
Durante a tarde, as rádios tocaram intensamente a tese segundo a qual PR,PM e PS tinham um pacto para colocar Durão no honroso cargo que o libertará das desgraças que engendrou por cá. Esperou-se, com inquietação, a declaração clarificadora. Chegou finalmente um sinal de que o PS não serve para carimbar arranjos de topo feitos vertiginosamente em segredo, nem acha normal que Durão escolha sucessor como se fosse ao IKEA comprar-nos, em promoção, um PM de plástico para deixar em S. Bento. As responsabilidades em que o PS foi investido em 13 de Junho exigem demarcação total desta forma de fazer política. O chefe da oposição deve ser o exemplo do contrário disto: verdade total, frontalidade, respeito pelos cidadãos.

O PSD FICOU REDUZIDO A ISTO?! E O PP?!
Pacheco, honra lhe seja feita, revela sentido de Estado e feeling democrático quando preconiza que as decisões a tomar pelo PSD sejam filhas de debate democrático e não fruto de um testamento político (Diktat!) do líder cessante, de malas feitas para o glorioso destino de ex-PM de um país cuja pequenez o torna conveniente para a Europa que temos. Atenção queridos irmãos da União: Durão fala línguas mas tem de ser sempre submetido a um detector de mentiras!
Impressiona também a facilidade com que as santanettes e santaneiros repartem cargos como se estivesse no papo o partido, o Governo, o Presidente da República, o Parlamento.?Escovam? Manuela Ferreira Leite sem hesitar... O amado CDS é tratado como uma pequena que se tem por conta: dá-se de barato que aceitará tudo e se contentará em ficar com a mesada que calhar. E o CDS ? autonomista a meio da semana!- está caladinho, esperando que Santana lhe envie o SMS com o ?I love you?.

BOA VIAGEM, DURÃO; AQUI MANDAM OS QUE CÁ ESTÃO!



Ridículo supremo: o futuro Presidente só tomará posse ...em Outubro!!!! Logo: todo este frenesim visa consumar a jacto, já, já, já, uma transição governamental que dará a Barroso umas férias calmas de 4 quinzenas antes de se sentar no Gabinete de Bruxelas. Tiro o chapéu ao nosso pequeno Maquiavel, mas acho que está a tomar-nos de tal forma por parvos que merece que lhe estraguem a festa. Cabe ao PS o quinhão maior desses festejos, que cabe aos órgãos nacionais preparar com requinte e sem contemplações.Eleições, já!

PS: O nosso PR fez ontem um aviso aos apressados. Nada legitima que se trate o PR como se fosse notário de uma transmissão de poder entre amigos, feita à pressa, com base em telefonemas das distritais (ou SMS's?). O mínimo que se pode exigir quando se apresenta uma proposta em nome de um partido é que os órgãos máximos se pronunciem.E como não se trata de uma questão interna do PSD, já agora, pensar na maioria dos cidadãos, aqueles que mal tiveram o papelinho do voto nas mãos mostraram bem o que pensam das coligações da direita que temos. Boa viagem, Durão; aqui mandam os que cá estão!


publicado por quadratura do círculo às 12:54
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Quinta-feira, 24 de Junho de 2004

Gabriel Rafael Guerra - Destino americano

Desde há já duas semanas atrás, sensivelmente, que começaram a surgir da parte da sociedade civil norte-americana (de todos os quadrantes socio-profissionais, desde jornalistas a economistas, passando por militares na reserva) sinais inequívocos (e bastante preocupantes) de um profundo mal estar face às várias inquisições que o Departamento de Justiça tem vindo a executar judicialmente contra a Administração Bush quanto às várias suspeitas de ilegalidades cometidas na sua campanha militar (iraquiana). O grau de perplexidade suscitado pelas várias conclusões já permitidas de inferir e que incidem tanto sobre a metodologia utilizada bem como sobre as reais(e ocultas) intenções político-militares são tais que o clima criado é o da sensação inquietante (e perigosa) de se estar perante o risco de uma vertiginosa implosão do próprio sistema político americano. A única obsessão agora parece ser o da resposta à seguinte pergunta: «Did the Presidente went far too far in the process of lying to us?» São, assim, hoje, as próprias bases constitucionais norte-americanas que parecem estar a ser (terem já sido) abaladas. Mentir ao Senado, ao Congresso, aos Media (manipulando descaradamente as informações naturalmente classificadas secretas), enganar, em suma, o Povo Americano, para poder dispor de suficiente financiamento e das vidas dos soldados é algo que repugna à moralidade protestante (vigente). (E repugna, sobretudo, porque, incorporando esta moral, num grau já bastante elevado, um sentido de oportunidade ou oportunismo prático de cariz utilitário que permite, precisamente, legitimar
("eticamente") o seu sistema económico (cf. Weber), impõe também, por outro lado, e por isso mesmo, limites e fronteiras bastante claras perante os abusos a que se encontra vulnerável; a mentira é um destes limites (e ao contrário das "sociedades católicas", onde é "tolerada" até um certo ponto), a mentira sobretudo a um alto nível (na hierarquia de responsabilidades) não é puro e simplesmente aceitável, como, sobretudo, não é comportável.) Assim, (novamente), perfila-se a sombra do impeachment nos corredores da Casa Branca, e a irromper no horizonte temporal (próximo) esta possibilidade (só que, agora não é já um assunto ligeiro de costumes, como no "caso Clinton-Lewinsky", mas sim, grave, de substância política), o risco do esvaziamento total do/de poder quando o país mais precisa dele para sair do beco onde se inquinou. A América arrisca-se a perder a face, não só em relação ao Ocidente (já a perdeu moralmente), não só em relação às várias máquinas de guerra (já a perdeu estrategicamente), mas sim, face a si-mesmo. Pode, de facto, o momento político comportar agora um impeachment? Mas, por outro lado, pode o sistema Juridico-Constitucional recusar o seu natural curso e evitar que as consequências dos actos perpetuados (que apontam claramente para esta figura) ponham em causa (no caso da recusa da justiça em judicar) os seus próprios procedimentos internos? Ou seja, pode a Justiça deslegimitar-se sem deslegimitar também o sistema político sobre o qual assenta a sua supremacia (sobre o poder político, em tribunais) sem que (passe a vulgata) «tudo venha abaixo»? Haverá, por outro lado, se esta ameaça de impeachment se tornar irreversível suficiente tempo (ou dinheiro) para o surgimento de um novo candidato republicano? Poderá, então, o eleitor (médio) americano sequer suportar o facto de ter que eleger «a President who lied to us» sem questionar todo o sistema? Um sistema, relembre-se, que assenta sobre uma abstenção (ou melhor, suave exclusão) de metade da sua população... Será que os mecanismos culturais de compensação (que contrariam ou evacuam as tensões internas para que não se tornem revoltas em latência) poderão ser accionados de maneira a poder criar uma contra-dinâmica suficiente para que o perigo de implosão não se torne uma realidade (explosiva)? Ou seja, podem, neste contexto, as industrias
(culturais) da violência e do prazer (do prazer da violência e da violência do prazer) jogar o seu papel de ("contra"-)propaganda, sem contribuir para a aceleração desta implosão (reflita-se no caso do «Farenheit 9/11»)? E pode o sistema binário (Democrata-Republicano) sair ileso de tudo isto? Ao ter que alinhar um com o outro (para evitar a implosão política do sistema pelo sistema), não ficará claro ao eleitorado americano que o seu sistema parece mais ser o de um partido único, só que apenas bicéfalo, em vez de monolítico (como na ex-URSS)? Muitas personalidades críticas do sistema (e cite-se aqui as de maior relevo intelectual ou politico, como Gore Vidal (cf. «Império») ou Noam Chomsky (cf. «Da Propaganda») tem chamado precisamente a atenção para estes aspectos deficientes no modelo partidário da democracia norte-americana. Que mais irá então desabar, pergunta-se agora o mundo? E qual o papel de todos e cada um neste contexto? Pode uma Europa enfraquecida pelo seu recente alinhamento com os EUA recuperar fôlego e credibilidade na arena internacional? Terá meios? Individualidades políticas à altura? Quo vadis America? Quo vadimus mundus?...
Gabriel Rafael Guerra
publicado por quadratura do círculo às 13:34
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Terça-feira, 22 de Junho de 2004

Maria Luísa Jubilado - Futuro da coligação

Sempre perguntei a mim própria "que diabo fazia" o Dr. Lobo Xavier ao lado de Paulo Portas. Esta noite percebi, infelizmente.
Claro que o Dr. Pacheco Pereira tem toda a razão naquilo que escreveu e naquilo que disse quanto ao futuro da coligação e, mais, quando disse que seria diferente uma coligação com outro leader no PP. Pois claro que seria, mas mesmo assim, há duas coisas que espero não ver acontecerem: este Governo governar à la Guterres,
isto é, governar para e ao sabor das sondagens e que o PSD concorra às eleições legislativas em coligação.
Também é verdade que, em coligação, o PSD perde muitos votos. Eu que o diga, porque nas autárquicas, aqui na Damaia, perdi imensos votos porque, ao contrário do
eu desejava, se concorreu em coligação. Está o PS a governar, muito mal, a freguesia.
Só não percebi uma coisa: porque é que o Dr. Magalhães, concorda com estes males da coligação, ele que não dá ponto sem nó? O que é que ele ganha, em votos, claro,
se a coligação der para o torto?.
Grande programa.
Maria Luísa Jubilado
publicado por quadratura do círculo às 12:11
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Terça-feira, 15 de Junho de 2004

Filipe de Almeida Santos - Balanço da noite eleitoral

(...) Gostava de vos roubar algum tempo para dissecar algumas coisas que foram ditas
e que me parecem bastante elucidativas do papel e das motivações de cada um
dos protagonistas da noite eleitoral.
A Durão Barroso coube o discurso politicamente correcto - vamos ver com que
consequências práticas nos próximos dias - da assunção da derrota e da
proclamação do não-autismo.
A Ferro Rodrigues coube o discurso do "deixa-me cá mandar uns recados para
dentro, para não me fazerem a folha". Foi vergonhoso ver o suposto líder da
oposição mais preocupado com trica política panfletária e arruaceira -
que aliás tem sido sempre a sua forma de estar na política desde que assumiu
a liderança do PS - e com o anunciar da sua recandidatura à liderança do PS
do que em apresentar propostas concretas para o futuro do País. Era o
momento do PS mostrar o que vale em IDEIAS e em POLÍTICAS e o Dr. Ferro
Rodrigues apenas confirmou que a vitória do PS foi feita à custa de golos que
o Governo marcou na sua própria baliza.
A CDU e o Bloco fizeram o discurso do costume. Nada de novo.
A Deus Pinheiro também coube o seu papel. Não resisto a deixar aqui um aparte
quanto à sua intervenção na noite eleitoral: Deus Pinheiro ao centro,
ladeado por Luís Queiró e Luís Pedro Mota Soares. Imagino as conversas de
bastidores : " vão lá e ponham-se bem à frente, para vos verem bem..."
Já Luís Filipe Menezes aproveitou para lançar a sua candidatura à Câmara do
Porto, com o anunciado apoio de Marques Mendes e do secretário-geral do PSD,
Miguel Relvas.
Santana Lopes não se estendeu em polémicas, contrariando o seu habitual. A
pose de homem de Estado é-lhe agora a mais conveniente.
Já Marcelo Rebelo de Sousa chamou as coisas pelos nomes : uma grande
"banhada". Ainda que noutro registo linguístico, Dias Loureiro, na RTP1,
acompanhou-o nessa análise.
A Paulo Portas coube a revelação (será que ainda era preciso essa
revelação?) da noite : a coligação está de pé e é para durar. Não deixa
de ser sintomático que seja ele a fazer tal profissão de fé.
Por outro lado a repetição, já anedótica, de que o CDS-PP agora é um
partido completamente europeísta, porque votou favoravelmente Nice e
Amsterdão, foi também esclarecedora : venha a Constituição Europeia que
nós ratificamos sem pestanejar - é preciso é que a coligação se mantenha
e com ela todos os "jobs" criados para um partido que estava ávido de tal.
Se dúvida havia quanto ao estado de espírito e às motivações de todos estes
senhores, creio que a noite eleitoral foi bastante esclarecedora.
Pessoalmente, o que me servirá de barómetro para a tal introspecção
que o Governo deve fazer sobre os resultados eleitorais será um
facto isolado, mas que considero ser demonstrativo da forma como funciona o
Governo e a coligação. Se Durão Barroso remodelar a Ministra da Justiça
creio que seja possível ao Governo, se simultaneamente se lançar num caminho
de maior investimento público e de políticas sociais mais activas e
visíveis, chegar vitorioso a 2006.
Se Durão Barroso não o fizer (e atenção que não quero dizer com isto que
Celeste Cardona deva ser a única a ser remodelada no elenco governativo, nem
tão pouco que seja a sua pasta a de mais urgente remodelação), dará um
sinal claro e inequívoco de que é uma marioneta nas mãos de Paulo Portas.
Portas precisa do capital político que o clã Cardona/Queiró ainda vai tendo
dentro do seu partido e fazer cair Celeste Cardona poderia abrir algumas
brechas internas que Portas quer a todo custo evitar. Se a eleição de Luís
Pedro Mota Soares para a Secretaria-Geral do partido serviu para a manutenção
das boas relações políticas com a Juventude do seu partido, a manutenção
de Celeste Cardona é importantíssima para aguentar o barco do CDS. Fazer sair
Celeste Cardona do Governo poderia ser o princípio do seu fim.
Se Durão Barroso não o fizer, aí sim, mais do que o Governo, o País estará
perdido.
All?s well that ends well... mas tem de se fazer por isso Dr. Durão.
Filipe de Almeida Santos
publicado por quadratura do círculo às 16:33
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Afonso Leonardo - Descanse em Paz, Sousa Franco

Não conheci o Prof. Sousa Franco, senão como uma boa parte dos cidadãos:
pela televisão e pela imprensa, como de resto conhecemos a maior parte das
figuras públicas. Daí, construímos as nossas imagens: simpatizamos com umas,
antipatizamos com outras, admirando algumas, um pouco na medida em que há
afinidades de sentir e pensar o mundo e os seus problemas. De Sousa Franco
sempre o senti como um homem de bem. Da sua campanha achei interessante que
a tenha parado para ir à missa eu que também às vezes paro a vida para
pensar por que não vou à missa. Atrás de que corria Sousa Franco? Que pode
mover um homem tão culto (eu que o pensava apenas um bom economista!) a
entregar-se tão intensamente a uma campanha onde nenhum cidadão português vê
qual a diferença entre o que defende o PSD e o PS? Alguém me saberá, poderá,
quererá explicar (para além de personalidades, de poder e de interesses) o
que de essencial os separa? Que diferença existe entre pertencer a um clube
de futebol e a um partido político? Um é a brincar, outro é a sério? Mais do
que o pensamento o que move é a paixão. A morte quebra os dois por tempo
breve, pois voltaremos a esquecer o mais óbvio, evidente e certo de todos os
factos: Cada dia é um passo seguro de aproximação … até ao fim. Afonso
Leonardo
publicado por quadratura do círculo às 16:23
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Quarta-feira, 9 de Junho de 2004

OBRIGADO PROF. Sousa Franco!

Deixei no meu blog parlamentar uma pequena evocação do Prof. Sousa Franco, a quem nenhuma homenagem pode ser recusada. Mas fazê-lo não deve ser coisa episódica e sem sequência. Pode ler-se em:
http://blogs.parlamento.pt/republicadigital/archive/2004-06-09/417.aspx
publicado por quadratura do círculo às 17:44
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Gabriel Rafael Guerra - Futuro do Iraque

Concluiu-se esta semana no campo diplomático um acordo franco-americano que
permitiu desbloquear no Conselho de Segurança a aprovação de uma nova
resolução da ONU sobre o Iraque. O comunicado emitido pelo MNE francês sobre
o mesmo é, no entanto, vago quanto aos pontos eventualmente acordados que
provocaram uma mudança ou nova inflexão na posição francesa. A reacção
reservada da Rússia parece também indiciar que este acordo, não tendo sido
por ela objecto de real constestação ou entrave no CS, tão pouco inclui
qualquer menção a qualquer cedência ou contrapartidas acordadas. Sendo
assim anuncia-se, de facto, um novo capítulo no Iraque. Este 3º (ou 4º)
capítulo será decisivo no desenho geoestratégico político que terá o
Iraque no seu pós-guerra (ou pós-ocupação).
Dois factores essenciais, de mesma natureza (mas opostos entre si) parecem ter
sido decisivos para a abertura deste capítulo final: 1º) Uma mudança, senão
radical, substancial, de tom não na Administração Norte-Americana em si,
mas na atitude do próprio Presidente Bush que, agora sob forte contestação
interna, e em vista a não comprometer irreversivelmente a sua reeleição,
inverteu os valores discursivos em que assentavam a sua campanha no Iraque. As
palavras «invasão» e «ocupação» substituiram-se (como mea culpa) às
palavras
"libertação" ou "prevenção" (uma das palavras-chaves da doutrina do «think
tank») no próprio discurso americano. 2º) Um abrandamento (táctico)
correspondente dos grupos de resistência e um consequente realinhamento
interno de todas as posições nos vários xadrezes (políticos, religiosos,
económicos, militares).
A visita do Presidente Bush ao Vaticano, o seu semblante visivelmente abatido,
uma certa apatia (em directo) face aos jornalistas no ("não") reconhecimento
dos
erros da sua Administração indicam o assumir tácito de uma derrota
moral (profunda). Tal parece ter sido o fundo político da sua digressão
europeia: transmitir o sinal que o «Presidente quer agora sair do Iraque e
ainda ileso se possível». Doravante, será a sua Administração (e sobretudo
ela) a tomar conta (em exclusivo) do assunto. O contraste de atitude entre
ambos (Presidente e Administração) é disso a prova, senão gritante
totalmente evidente.
Dito isto, e face à equação iraquiana (com três indeterminantes, curdos,
xiitas, sunitas) surgem agora vários cenários possíveis, no entanto, todos
eles
inquietantes. Das duas, uma: ou haverá, dado a precaridade temporal e
estrutural da situação criada, uma natural tendência em copiar algum (ou
vários) modelo(s) já existentes - e convém saber quais são -, ou surgirá
de todo este complexo um novo híbrido. Podemos dividir em três grandes grupos
tais modelos: 1º) O que se poderá apelidar de "libanização" do Iraque, ou
seja, o da gestão/erosão em lume brando dos vários interesses em conflito
(interno) através de uma guerra civil de média/baixa intensidade que
permitirá traçar e delinear a verdadeira correlação de forças internas no
mapa, "libertar" (pela negativa) as tensões, e criar depois uma base (mais ou
menos) "sólida" (ou "pacificada") para uma reconciliação (ou separação)
definitiva (dos três grupos entre si). 2º) A "kuwaitização" do Iraque - a
solução que mais agradaria aos EUA (mas já pouco provável, pois implicaria
um reforço, naquela área, da presença americana a nível militar; algo que
parece ter sido já «jeoperdized» pela falta de visão estratégica da
Administração Bush) -, e que tornaria o Iraque um país (exclusivamente)
votado para a produção petrolífera, formando, em torno da Arábia Saudita,
uma espécie de super-potência petrolífera mundial. 3º) a "iranização" do
Iraque - a solução mais temida pelo Ocidente -, e que tornaria o Iraque mais
um polo de um (ou de vários) fundamentalismo(s). Estes três "cenários" são
os mais prováveis, aqueles que sobre os quais, pela proximidade geográfica (e
cultural), os analistas mais tecem considerações futuras.
No entanto, nenhum destes três cenários contempla a hipótese das urnas (o de
uma consulta regulada, e, sobretudo, regular); ou seja, o cenário
democrático. Para tal, teriam que ser considerados dois outros modelos (já "
testados" em países árabes ou muçulmanos): 1º) O modelo argelino (que a
França quererá "exportar") ou paquistanês, onde o Exército controla com
mão de ferro os aparelhos partidários e são vedados aos grupos
fundamentalistas quaisquer possibilidades (reais) de acesso ao poder; 2º) O
modelo turco ou do Egipto, que integra politicamente de uma forma laica os grupos
religiosos (mais ou menos fundamentalistas), mas por exemplo rejeita qualquer
autonomia interna às suas minorias (e aqui a questão curda torna-se
delicada). No entanto, tanto a Turquia como o Egipto têm atrás de si uma longa
e sólida história (moderna) democrática (e republicana) e personalidades
com a da dimensão de Nasser são hoje uma miragem.
Sendo assim, a resolução aprovada no ONU legitimará internacionalmente uma
transição, é certo (desejada, hoje, mais por quem dela menos precisa - EUA),
mas não bastará. A comunidade internacional tem uma grande dívida em
relação ao povo iraquiano que deverá honrar como deve ser se quiser merecer
o seu respeito e tal custeando integralmente a sua reconstrução. No entanto,
é com muito cepticismo que se aguardam os próximos desenvolvimentos.
Que a lição do Iraque sirva definitivamente, também, para pôr fim a todos os
aventureirismos e miragens militarísticas (passe o neologismo) produzidos nos
laboratórios da incultura política (americana e não só). A força inculta e
bruta é de má memória, volvidos que estão 60 anos sobre a sua derrota.
Gabriel Rafael Guerra
publicado por quadratura do círculo às 15:25
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Segunda-feira, 7 de Junho de 2004

Luís Leonardo - Cultura do Insulto

“Eu rio-me nos funerais e choro nas festas
E encontro um gosto suave no vinho mais amargo;
Com frequência tomo os factos por mentiras
E, de olhos postos no céu, caio em buracos.
Mas a voz consola-me e diz-me: «Guarda os teus sonhos;
Os sábios não os têm tão belos como os loucos.”
Baudelaire, La voix

Parece-me a mim que a quadratura com os ângulos que lhe são próprios está a
ficar mais circular, perdendo os contornos mais agressivos que a torna mais
habitável, mais aconchegada, mais envolvente, mais perfeita. Sabe-se lá se
não será por mor dos muitos insultos grosseiros com que, reciprocamente, se
mimam os adversários políticos que, como todos os maus artistas carregam nas
tintas onde não devem, aumentam decibéis e luzes que ocultem o vazio da sua
arte. É tudo gente que tem pressa, que lhe interessa o imediatamente útil,
que não tem tempo a perder, que prefere ganhar mal do que perder bem (pressa
de chegar a secretário, a ministro, a deputado, ao governo, a Bruxelas); é
uma luta pela vida (ou pela vidinha) que não pela cultura. E a pressa dá no
que dá: para quê a negociação, a diplomacia, a persuasão se podemos vencer
pela espada? Mas num mundo em aceleração quem tem paciência para esperar?
Não são apenas os frangos que crescem depressa. Os pais ( que estão bem/mal
mal na vida) têm pressa que os filhos aprendam tudo e, por isso, é ver a
quantidade de coisas que estas crianças têm que aprender! (ir à música, ao
ballett, à natação…). E o maior dos perigos é começar a levar a sério a vida
demasiado cedo.
Regressando aos insultos dos nossos políticos eles traduzem a sua incultura,
a sua necessidade de strip-tease que à força de se desnudarem a si e aos
outros nos oferecem um espectáculo intensamente pornográfico. A cultura só
existe quando tem alguma coisa para se esconder e o diálogo só existe quando
se acredita poder mostrar alguma coisa ao outro. Neste jogo de
ocultação/desocultação se joga a nossa humanidade. A forma de aprender este
jogo - brincar. Ora, a linguagem é a instância, por excelência, da cultura
enquanto adaptação ao mundo. Por isso, a nossa relação com a realidade é
indirecta, tacteante, hesitante, aproximativa, retórica, cosmética, uma
espécie de sedução amorosa. Deste modo, o que insulta revela-se na sua nudez
bestial dos instintos primários tão necessários à vida na selva.
É tempo de nos volvermos à cultura e, de um modo especial, os políticos pela
sua especial responsabilidade nos nossos destinos. Sigam o conselho de
Pacheco Pereira (que pena este homem metido na política, digo-o muito a
sério)! Olhem para o céu! Foi a olhar para o céu que o homem descobriu a
terra! A sério ainda, que não conheço nenhuma frase tão emblemática no
avanço da cultura e do conhecimento como esta. É verdade que Tales caiu num
poço por andar a olhar para o céu e que a sua criada trácia se riu a
bandeiras despregadas da distracção do filósofo. Mas, entre outros
espécimes, o mundo é mesmo assim: feito de filósofos e de criadas – quando
aqueles pedem para olhar os céus, estas perguntam onde estão as cartas da
astróloga Maia (assim se chama?).
Luís Leonardo
publicado por quadratura do círculo às 19:00
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Quarta-feira, 2 de Junho de 2004

António Lobo Xavier - Isenção, honestidade e imparcialidade... (Resposta a Alcides Silva)

Caro Senhor Alcides Silva
Cá recebemos a sua mensagem, oriunda de um endereço da função pública e enviada nas horas do expediente.
Para que vê o programa? Digo bem, vê, porque estou certo de que não ouve. Jamais disse o que afirma. Disse, isso sim, que os níveis mais baixos da função pública recebem salários mais altos do que os níveis comparáveis do sector privado. Quanto aos níveis mais altos, passa-se exactamente o contrário. Aliás, ninguém no programa comentou o que eu disse porque se trata de uma verdade contida em dezenas de estudos sobre o tema.
Quanto ao mais, sinceramente: se a visão da Qaudratura do Círculo só o desespera e lhe inspira grosserias, mude de canal e veja o Cabaret da Coxa. Que diabo, com tanta escolha!
António Lobo Xavier
publicado por quadratura do círculo às 18:40
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Alcides Silva - Isenção, honestidade e imparcialidade...

(Isenção, honestidade e imparcialidade...) Sim! É disso que se trata.
Lá tive que vos gramar mais uma noite ( falta de sono e de alternativas )...
Bem, quando digo isto não quero dizer que veja o programa todo - não sou masoquista!
Mais uma vez prenderam-me a atenção, especialmente esse de Xavier... um espanto!
Os outros babekos calados porque lhes interessa...
XAVIER: "...os políticos e gestores públicos portugueses são mal pagos comparativamente com as camadas mais baixas de funcionários da Adm. Pública..."
Solução proposta: contratação, via porta do cavalo e à revelia de quaisquer regras, de novos e eficientes gestores.
Os outros paineleiros nem tugem nem mugem, em que país vivem?
Será que desconhecem que, nos países da U.E. dos 15, pelo menos, Portugal apresenta a maior diferença entre os vencimentos de topo e os vencimentos mais baixos - seja no sector público ou privado?
Desconhecem? Se sim é muita ignorância, se não... são os políticos que temos!
Prometo evitar ver-vos - é que me provocam subidas drásticas de adrenalina!
Boas férias e por favor ide para Bruxelas ou para qualquer lado, mas evitem entrar-me por casa dentro...
Alcides Silva
publicado por quadratura do círculo às 18:37
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