Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2005
Adquiri, este ano, o direito de votar, que fiz uso de, e por tal, o direito
a uma opinião igualmente ponderada, que merece igual consideração perante a
lei, e isto, para o bem ou para o mal.
Tenho, curiosamente até, seguido os desenlaces de mais um acontecimento
eleitoral, que por si só, envolve um turbilhão de outros acontecimentos
anexos, ironicamente indissociáveis.
Enfim, ouvi, e com clamor, pronunciarem-se despropósitos sobre a direita e
até mesmo a direita radical, fazerem-se menções a uma conjuntura política
que não acho em Portugal. E será esse mesmo assunto que vos trago -
Portugal, um país não balanceado, não só politicamente...
Pois bem, o que não me tem chegado é o debate desta questão, que certamente
explicará uma certa hostilidade para com a "direita" em Portugal. De uma vez
por todas, Portugal é, actualmente, um país nitidamente de esquerda, com um
único partido político assente no centro. A meu ver, ficou muito claro, nos
debates ocorridos que as posições oficiais dos partidos PS e PSD se mesclam
muito frequentemente e daí uma certa precipitação em responder a perguntas
nada convenientes. Por isso, e por outras impressões dificilmente
descritíveis, creio que os partidos de maior peso se escudaram no ataque
mútuo, para evitarem estarem de acordo e suas resoluções se parecerem
excessivamente idênticas. Por muito que não se queira, os cofres estão
semi-vazios e as atitudes do PS roçarão invariavelmente com as do governo
anterior, pelo menos a nível de conteúdos... A austeridade financeira não
permite grandes solidariedades como se populiza. Se os ideais raramente
divergem, como na criação de emprego (e aí sim, mostra-se um fogacho de
centralismo no PSD), e o PS é claramente de esquerda, é aceitável associar o
PSD a uma política de esquerda. Certamente que profano talvez o socialmente
aceite, direi até, o senso comum das pessoas, dos votantes, e talvez de
alguns críticos. É contudo um problema altamente legítimo, que justificará a
presente instabilidade dos governos, que vêm sucedendo.
Acontece assim que, a alternância de governos é, idealisticamente,
praticamente nula, concentrando as políticas desenvolvidas, no âmbito de uma
esquerda tragável, digo, não radical. Desta forma, torna-se preocupante o
sentido das acções que têm surgido. Correcta e justamente, a alternância de
poder deveria realizar-se entre PSD e PP. Há portanto um desequilíbrio
impróprio de uma democracia imparcial e equitativa, cujo parlamento é
invariavelmente tendencioso. Creio ser imperativo reverter este descomando,
pelo bem-querer da nação, independentemente da minha posição política se
identificar ou não com algum dos partidos em causa. Este problema, julgo,
advém da revolução tumultuosa do 25 de Abril, que consistiu basicamente num
corte radical e estigmatizante com uma forma de governo, tendo sido
explorado pelos partidos de esquerda para seu próprio benefício, elevação e
ascensão ao poder. Tal não se sucedeu em Espanha, onde actualmente,
assistimos a uma distribuição satisfatoriamente admissível dos deputados, e
onde há uma alternância de poder saudável, de partidos de centro-direita e
esquerda. É fundamental desnovelar o preconceito da "direita" que impera na
mente dos portugueses, até porque, como disse, não existe em Portugal. É
crítico criá-la.
Há, e penso tê-lo demonstrado, problemas mais fundamentais, que é necessário
discernir, do que propriamente exibir triunfantemente a vitória do PS ao meu
vizinho do lado do PSD, ou matutar na vingança contra o vizinho que é de
esquerda. Desta vez, já não houve tantos buzinões nem tanta festa, o que é
sinal que estamos a crescer, que já não somos democraticamente tão imaturos
como aquando da vitória do Sr. Guterres - que é aquela mais longínqua no
passado que ainda recordo. De uma vez por todas, deixemo-nos de cravos e
"revoluções de abris", guiemo-nos pelo passado e não nos agarremos a ele -
aceitemos a necessidade de ideologias diametralmente opostas às até agora,
pelo bem da democracia, e pela igualdade de direitos que tão banalmente
bradam. O centro é o prumo da democracia, a esquerda e a direita, o tónico
do povo.
Para que não me acusem de alguma cor partidária, sou um "independente". Este é o assunto que aqui deixo, que gostaria, com muito gosto, ver
criticado.
João Pedro Santos
Um exemplo do Estado de Direito em que vivemos:
Um artigo publicado no Expresso do dia 26 de Fevereiro de 2005, na sua revista Factual, assinado pelo Sr. António Henriques, muito interessante de resto, deixou-me perplexo e leva-me quase a pôr em dúvida a exactidão dos dados nele contidos.
O artigo, intitulado e cito " Bustorff autorizou corte de Aqueduto", dá uma resenha sobre algumas das acções de despacho elaboradas sobre aspectos do troço da CRIL Buraca-Pontinha.
Desse artigo relevo, por ser importante e definitivo, que a Sr.ª Ministra da Cultura, certamente melhor informada de que quando era apenas uma das 10 mil signatárias dum abaixo-assinado que exigia a sua preservação, elaborou uma delegação de poderes que, por omissão, permitia o corte do Aqueduto.
Este foi, se verdadeiro, apenas mais um acto no conturbado processo de construção do troço da CRIL.
Mas o que importa reter deste complicado processo de construção é o seguinte:
- Se houver vozes, credíveis e respeitáveis, que se levantem hoje contra o eventual atentado ao Monumento Nacional que é o Aqueduto das Águas Livres e tiverem algum sucesso (o que é duvidoso), honra lhes seja feita pois, mais vale fazer proteger um Monumento do que as pessoas, moradores, que vão ser espoliados da pouca qualidade de vida que possuem, pela maneira como vai ser construído este troço da CRIL e, cujo protesto de nada valeu.
Num Estado de Direito, no qual dizem vivemos, talvez o protesto contra a descaracterização dum Monumento Nacional tenha mais valor que o protesto de centenas de pessoas (incluindo os seus representes locais) contra a degradação da sua qualidade de vida.
Um Monumento é uma marca do passado que importa realçar como fruto de engenho do povo que o ergueu; as pessoas são o presente e o futuro de um país e, por isso, não podem, não devem valer menos que um Monumento.
Rui Silva
O problema da liberalização do comércio dos têxteis que agora se concretizou é conhecido há mais de 10 anos, e vem pôr em evidência a nossa incapacidade para resolver o problema. Existem soluções para este problema: evoluir tecnologicamente de forma a produzirmos produtos com outras características e de maior qualidade; criar marcas próprias e controlar desde a produção ao consumidor. O mesmo podemos dizer do calçado. Isto é uma boa solução para a China de finais do séc. XX, será uma boa solução para a China do séc. XXI ?
Hà 10 15 anos atrás os chineses eram conhecidos, e continuam a ser, pelos brinquedos e outros produtos de utilidade doméstica de baixa qualidade, e de facto nessa altura eles não tinham capacidade para produzir muito mais do que isso. Mas, neste momento, eles para além disso, produzem têxteis de baixa e média qualidade, produtos informáticos de todas as qualidades, electrodomésticos de todas as qualidades, entre outros. Com o ritmo de desenvolvimento e de transferência de tecnologia (devido às deslocalizações das empresas da Europa, Estados Unidos e Japão) quais serão as capacidades dos Chineses daqui a 10 15 anos? Quantos sectores da actividade económica a Europa poderá dizer que domina?
A capacidade económica e tecnológica dos chineses está a aproximar-se a uma velocidade impressionante da capacidade europeia e por muito desenvolvimento europeu em alta tecnologia, eles ano após ano aproximam-se.
A deslocalização das empresas é um fenómeno que tem a tendência a aumentar ano após ano, visto que quantas mais empresas se deslocalizarem, maior pressão haverá sobre os preços dos produtos, obrigando outras empresas a seguirem o mesmo caminho.
O poder de compra dos chineses vai aumentar ao ritmo do seu desenvolvimento industrial?
Será que, deixando o mercado funcionar, a Europa tem capacidade para absorver este embate?
Alguém escreveu um livro há mais de 40 anos com o título Quando a China acordar.
A China já acordou, mas a Europa parece que está a dormir.
Um amigo meu não está tão pessimista e contrapõe que estes problemas são pensados pelos muitos especialistas europeus e que eles estão atentos ao evoluir da economia mundial. Espero que tenha razão, no então a recessão de 1929 nos Estados Unidos aconteceu, a crise económica na Argentina aconteceu, e eles tinham concerteza muitos técnicos especializados que previram os acontecimentos.
Se calhar os nossos especialistas estão preparados para enfrentar tempestades económicas, mas poderemos estar perante um acontecimento que daqui a 100 anos será estudado pelos futuros especialistas como "A Grande Crise Europeia" e o que mais os intrigará é porque não fomos capazes de a evitar.
Fernando Calisto
Política: do Gr. politiké-Substantivo feminino-Ciência do governo das nações;
Portugal vive um momento em que é necessário revisitar o significado da palavra Política.
A política em Portugal, nem sempre tem sido bem tratada, na essência do seu significado. Nem sempre o seu exercício se tem revelado como a expressão exacta do seu principal objectivo Governar a nação.
Muitas vezes o exercício desta nobre ciência, que deveria ser uma actividade através da qual são encontradas soluções para os problemas sociais e económicos e são satisfeitas diferentes aspirações, por meio da discussão e do compromisso, transforma-se num jogo de casos e contra-casos que não só desvirtuam o seu objectivo, como concorrem para o verdadeiro descrédito da actividade política.
Em Portugal, existe um afastamento entre o cidadão, os políticos e as politicas, por diversas razões, que deixaremos para outro artigo.
Nas ultimas eleições, existiu, senão um aproximar, pelo menos o estreitar do fosso entre ambos, e a diminuição da abstenção, foi a resposta que os cidadãos deram, como sinal de confiança, de que é possível fazer melhor e diferente. Há pois que aproveitar para se consolidar o caminho iniciado.
Se nos centrarmos nos últimos três anos, encontramos um período em que o exercício da actividade governativa se confundiu com um exercício contabilístico, excessivamente focado, e sem uma expressão concreta das preocupações e dos anseios dos Portugueses. A política viu-se pois completamente esvaziada de conteúdo ideológico, de opções politicas na sua verdadeira essência, e não conseguiu perceber que atrás de cada número existe uma pessoa, uma família, uma comunidade, a quem, e para quem o exercício da actividade politica deve estar dirigida. Chamaria portanto a este período, o período da politica-contabilística.
Depois deste período, veio o período da não-política. Com a entrada de Santana Lopes para o governo, a actividade política ficou marcada por aquilo onde Santana é inigualável. A emoção, o acontecimento, o caso, o boato.
A sua acção governativa teve a pedra de toque, com que durante anos, alimentou tudo o que era a via mais ligeira da comunicação social. Aí, ele é de facto imbatível. Pena foi, que o exercício da política, tenha sido mais uma vez mal tratado e menosprezado, por coisas e loisas de natureza inferior.
Depois do Presidente da Republica, homem que tem do exercício da nobre actividade da política, um entendimento muito correcto, ter tomado a decisão de terminar com o período da não-política, entrámos directamente no período da não-há-politica. Ou melhor, em período de campanha.
Sampaio, conseguiu terminar com o exercício constante do descrédito da política, com a dissolução do parlamento, só não foi possível retirar imediatamente, os seus intérpretes de cena (e ainda bem! vivemos em Democracia).
Assim, no período da não-há-politica, continuámos a saga e o descrédito da política não pôde parar. Não pôde parar, porque quem se construiu a si próprio, como político, num ambiente de politica-light, não consegue facilmente transitar para o debate político sério e com substância, que o seu principal adversário propôs. A campanha do PSD e de Santana, certamente muito mal aconselhado, pelos estrategas da América do Sul, que não entenderam que Portugal fica na Europa, só contribuiu para o avolumar das chagas que se têm perpetrado na política.
O povo Português felizmente percebeu, por entre o ruído de fundo que se ouviu na campanha, que havia uma alternativa, com propostas concretas para as suas preocupações, e com um nível de seriedade do exercício das funções de estado superior.
Cabe pois, agora ao Eng. Sócrates, trazer de novo a política, para o exercício da política. O período do regresso-da-política chegou. Sócrates tem agora a missão, de começar desde já, a construir um governo de forma séria, sem o folclore que já quase nos habituámos (infelizmente!), e que dê garantias da resposta aos principais problemas dos Portugueses.
O desemprego, o crescimento económico, a qualificação dos Portugueses, o combate à pobreza e à exclusão social, têm de saltar para o centro do debate político, e retirar o protagonismo ao fait divers, ao boato, às guerras palacianas, à desorientação, ao descontrolo
Enfim, cabe a Sócrates, mostrar aos Portugueses, que existe uma orientação clara do rumo para Portugal e para os Portugueses, e sobretudo que a Política e os Políticos, não são coisas que não interessam a ninguém! e trazê-los para o debate político.
O regresso da política já!
Mário Martins Campos
Ouvi o programa Quadratura do Círculo na SIC e reparei na admiração do
Sr. JPP aquando da afirmação do Sr. José Magalhães sobre a questão do referendo
sobre o aborto, a sua reacção foi "Subiu-lhe o poder à cabeça". Pois não
percebo a sua surpresa, pois o que me choca nestas eleições não é tanto a
derrota do PSD, mas sim o tipo de derrota, que por muitos é considerada
unicamente devida ao Sr. Santana. A realidade é que nós vamos ter que
sobreviver com esta arrogância Socialista que tão bem os caracteriza quando
estão no Poder.... "habituem-se...." dizia Vitorino, pois eu relaciono
este "habituem-se" à arrogancia protagonizada por muitos dos grandes
socialistas, desde Soares, ao próprio Vitorino e agora Socrates. A diferença é
que os anteriores, ao actual 1º ministro, apesar de tudo, vão dando provas das
suas competências.
O vergonhoso destas eleições não foi o PSD ter perdido, ou aos olhos de alguns
o Santana; não!!! O vergonhoso, foi o pior lider do PS até hoje, ter tido a
maior vitório do PS até hoje!!!
Esta eleição que mais pareceu a subida de Boris Ielsin ao poder, uma empresa de
marketing contratada, umas tantas perguntas bem elaboradas à população e gerir
os discursos do Eng. Socrates, em função daquilo que o povo respondeu, e ideias (zero!!!),
Mas também o contributo de uns tantos PSD's radicalizarem o discurso contra o
seu lider(o qual também não reunia a minha simpatia). Mas a diferença entre
Santana e Socrates, é que apesar de serem a face da mesma moeda, o segundo é
pior e o que de facto se diferenciou entre os 2 partidos é que, mesmo ambos os
partidos não gostarem dos seus lideres, o PS usou a sua astúcia, ou seja, calar
os "Pachecos Pereiras internos" e apoiar o lider em que não gostam (onde andava
a JS caro colega Pedro?) e acreditar na degradação da imagem do outro "menino",
aquele que chora... como dizia a música, ambos são meninos chorões, ambos
parecem (miudos) adultos mimados, mas um ganhou e ganhou de longe, não pela sua
competência, mas por todos os factores anteriormente referidos e conjugados.
Por isso a derrota não é só do Sr. Santana e das suas políticas (talvez a
derrota), mas a derrota por maioria absoluta foi de todos os que não fizeram a
comparação entre os dois políticos e só se preocuparam em criticar unicamente
um lider, que por muito mau que fosse (e era mau!!!), não era tão mau como o
pintaram e muito menos era inferior ao Eng. Socrates.
Agora preparemo-nos para por o partido no lugar a que tem direito e a sermos a
oposição correcta, igual ou melhor, aquela que queria que o Eng. Guterres
governasse até ao fim, contrastando com a oposição socialista do "bota abaixo"
e que não constroi, que só destroi.
Como disse em blogs anteriores, Democracia onde estas?, em 30 anos não
evoluimos nada, ou poucos foram os que evoluiram, para continuarmos atras de
maiorias e coligações, a democracia faz-se com acordos e discussões na
assembleia da republica, não de democracias "totalitárias" ou
coligações "tachistas" para atingirmos uma estabilidade maioritária
(totalitária= mais deputados que os outros que estão do outro lado).
Nuno Ribeiro
Nesta altura de pós-eleições, este será um assunto menor em termos de
discussão na Quadratura, no entanto não posso deixar de o mencionar,
embora tanto José Pacheco Pareira, como especialmente José Magalhães têm
vasto conhecimento sobre a matéria.
Numa altura em que a lei europeia que introduz as patentes de software
apenas não foi já aprovada porque a Polónia bloqueou o processo, mas ao
tudo indica que irá passar daqui a uns meses, pergunto-me se a grande
iniciativa de incentivo à Tecnologia e Investigação que parece ser uma
das prioridades do programa eleitoral do PS, valerá mesmo a pena?
Trabalhei até à pouco tempo numa PME ligada às tecnologias de
informação, que desenvolveu um projecto na área da Web sob licença GPL
(opensource). Ainda não existiam quaisquer ficheiros online para o
público - apenas uma declaração de intenções - e recebemos emails de
uma empresa de advogados norte-americana que administra direitos
intelectuais, ou patentes, avisando-nos que o nosso projecto infringia
uma patente de um dos clientes deles e que, logo que a lei europeia das
patentes de software fosse aprovada, iriam iniciar um processo judicial
contra nós por infracção de patente, sugerindo que retirássemos da web
quaisquer projectos relacionados com a dita patente.
Apesar de este email ser apenas um aviso, e não ter qualquer valor legal
em termos das nossas acções, depois de consultados alguns advogados, com
receio das implicações futuras, decidiu-se fechar o projecto.
Entretanto, soube de casos semelhantes na Bélgica, França e Alemanha, e
num artigo recente do Financial Times:
http://news.ft.com/cms/s/eaccbcde-85d3-11d9-9011-00000e2511c8.htmlFala-se das bolsas europeias (ou as empresas que as detêm) estarem a
preparar-se para batalhas judiciais com uma empresa norte-americana que
entre outras, patenteou a ideia de transaccionar "futuros"... Sabe-se lá
que outras patentes existem já registadas sobre ideias (sei que por
exemplo a British Telecom detêm a patente do hiperlink e que a Microsoft
detém a patente do "double-click")...
Valerá a pena, por um lado, investir em tecnologia e investigação &
desenvolvimento se, por outro lado, o governo concordou com uma lei que
irá de facto eliminar as, poucas, empresas que ainda realizam
investigação no domínio das Tecnologias de Informação?
Nuno Ferreira
Certa direita portuguesa vive um ridículo devaneio onírico, quando insiste
em culpabilizar o senhor Presidente da República pela crise politica em
Portugal.Acordem senhores! Respeitem as hierarquias e o senhor Presidente!
Respeitem Portugal e a inteligência dos portugueses! Foi graças à lucidez e
coragem do senhor Sampaio que esta mesma crise não se agravou.Foi este acto
de indesmentivel coragem, que nos libertou da incompetencia do anterior
governo de Santana Lopes, que tendo a oportunidade de governo de mão
beijada,se revelou um lider mediocre,sem um minimo de capacidade
estadista.Seria fundamental para a democracia portuguesa,que essa direita,se
deixe de hipocrisias, assuma os seus erros e comece a trabalhar em prol de
portugal. Guterres não fugiu! Assumiu o erro. Urge competência e seriedade à
politica portuguesa! (Obrigado à equipe da Quadradatura do
Círculo,e specialmente aos seus comentadores, por tão lucidas e inteligentes
discussões,que enriquecem o nosso triste e estupido panorama televisivo).
Mário Almeida
Para além do PS, do BE, e eventualmente da CDU, há uma outra força
partidária cuja vitória tem sido esquecida: o PPM. Efectivamente,
este pequeno partido conseguiu a "proeza" de eleger dois deputados,
em mais uma das mirabolantes estratégias de Santana Lopes. Não tenho
presente a história de eleições anteriores, mas seguramente que há
muito não víamos monárquicos no Parlamento da República Portuguesa.
Do facto, creio haver, sobretudo, dois pontos de relexão. Por um
lado, o PPM só deve à direcção de Santana um feito que, sozinho,
seguramente não conseguiria, o que, para além de desgostar dois
militantes laranja que se vêm arredados do Parlamento, mostra que as
coligações tendem a beneficiar apenas os "pequenos", que até se
podem dispensar de fazer campanha. Por outro lado, esta inesperda
chegada ao Parlamaento pode levar a que os sectores monárquicos da
nossa Sociedade, seguramente minoritários, aproveitem algum
mediatismo para propagandear a causa monárquica, invocando (e aqui
está o problema) uma vontade popular que toda a gente sabe que não
existitu. Em Braga, círculo eleitoral em que voto, os boletins nem
sequer tinham o símbolo monárquico, o que só será compreensível se
as listas do PSD por este distrito não incluíssem monárquicos. Por
último, estamos conversados quanto ao carácter parasitário dos
Verdes.
Filipe Alves Moreira
É na qualidade de militante da J.S. que vos escrevo, mas sobretudo na
qualidade de cidadão que gosta manter um certo distanciamento em relação à
opinião corrente, incluindo a do meu próprio partido.
Nas últimas eleições, confirmou-se a vitória - já esperada - do
Partido Socialista. Votei PS, mas confesso que é com alguma inquietação que
encaro os próximos tempos.
Contudo, e antes de mais, penso que importa fazer a análise do que penso ser
esta vitória esmagadora do PS. Os socialistas têm de ser auto-críticos e
assumir que - e discordando da opinião do José Magalhães - a vitória se
deveu sobretudo às trapalhadas da governação de Santana e Portas, mais do
que às virtudes do programa eleitoral socialista. Isto tudo aliado à crise
económica, ao desemprego e à perda de confiança, que Sócrates agora pretende
restaurar. Portanto, o mérito do líder do PS na conquista da maioria
absoluta fica francamente fragilizada.
Agora, aquilo que considero o mais importante: a mudança de políticas que
se avizinha, sobretudo a política económica. A estratégia seguida por Durão
Barroso - desde a austeridade às reformas que introduziu em vários sectores
- eram as que o país desesperadamente necessitava. E fundamento isto com os
dados presentes em vários relatórios internacionais, como os da OCDE, que
apontavam no sentido das mudanças que foram introduzidas. Neste sentido,
pergunto-me qual será a margem de manobra do PS para reorientar o rumo do
país. De facto, dada a péssima situação nacional, não há muito mais a fazer
senão continuar a política que vinha sendo seguida desde 2001:
flexibilização das leis laborais (ou, pelo menos, não alterar o actual
código laboral); reforma da administração pública - que aliás consta do
programa do PS, mas com moldes um pouco nebulosos - institucionalização da
"meritocracia", reformas na Saúde, Justiça, Educação, etc. Além da baixa do
IRC, para as empresas se tornarem mais competitivas, ao invés de aumento da
despesa pública.
E, além disso, há algo que me preocupa com este espírito socrático. Durão
Barroso, afirmou que era necessário um novo padrão de desenvolvimento:
acabar com a política do betão de Cavaco e do despesismo de Guterres e
permitir que sejam as empresas a tomar a dianteira do impulso para o
crescimento do país; o qual, também se deverá alicerçar nas exportações.
Ora, a primeira medida de Sócrates consta ser o financiamento do estágio de
1000 jovens ligados à área da tecnologia. Temo que esta possa ser um sinal
de uma nova política: aumento da despesa pública, com um Estado mais
interventivo na economia. Portugal precisa de liberalização, de menos Estado
e de uma administração pública ágil e funcional. São estes os vectores que
podem trazer Portugal para o pelotão da frente dos países mais
desenvolvidos.
Por outro lado, durante a campanha, não foram feitos apelos a sacrifícios
inevitáveis. Ao invés disso: "confiança", "esperança". Um / (O) cenário
rosa... Ora bem, para que haja os tais 15000 postos de trabalho, as empresas
têm de crescer (isto, claro, excluindo a opção suicida de os criar dentro do
Estado). E como se consegue isso? Produtividade. Ou seja, os portugueses têm
de trabalhar mais. Só assim se conseguem empresas saudáveis, postos de
trabalhos e aumentos salariais. O PS não pode fazer outra coisa senão isto.
Mas mencionou-o no seu programa eleitoral? Só confiança e mais despesa
pública não resolvem a situação.
Por último, duas notas. A primeira consiste numa crítica ao Pacheco
Pereira quando diz - no último programa da SIC - que a aliança com o PP
foi uma má escolha. É evidente que não foi das melhores opções. Contudo, os
benefícios da estabilidade - que, apesar de tudo, se verificaram durante 2
anos e meio - compensam um certo deslocamento de eleitorado. É que, mesmo
com outro partido no governo, Durão Barroso conseguiu, no essencial, iniciar
- e penso que se ficou apenas pelo iniciar - as políticas que constavam do
programa do PSD. Isto também para dizer, que foi sobretudo devido aos
benefícios da estabilidade - só possível com a maioria absoluta - e à recusa
do populismo e da histeria de Santana Lopes que votei no PS
A outra nota prende-se com o que já foi exposto: perante o actual estado
do país, mais do que políticas de esquerda ou de direita, há boas e más
políticas. Esperemos que o PS se decida pelas boas. É que não tempo a
perder: Tempus fugit.
João Pedro Dinis Francisco
Quarta-feira, 23 de Fevereiro de 2005
À semelhança de José Sócrates, também o Partido Popular de Paulo Portas tem agora uma oportunidade única de reverter a seu favor, uma determinada franja do eleitorado, e num menor curto espaço de tempo do que à partida se possa imaginar. O resultado destas eleições revestiu-se, em toda a linha, de situações pouco comuns, em comparação com anteriores actos eleitorais, que nada tiveram a ver com uma vontade política pensada, baseada em reflexões aturadas, por parte do eleitorado, sobre o estado da nação e a cura para os seus males. Houve uma nítida transferência de votos dos vários quadrantes político-ideológicos da sociedade para o partido socialista, numa manifestação uníssona e inequívoca, por parte do eleitorado, que, de modo nenhum, pretendia depositar nas mãos de governantes provindos do actual PSD, sob a liderança de Santana Lopes, os destinos do país. O PP de Paulo Portas facilmente teria atingido a cota dos 10%, numas eleições pontuadas pelos mesmos critérios de escolha que sempre presidiram a anteriores actos eleitorais, sobretudo o da razão. No entanto, os acordos de intenção e a colagem clara que Paulo Portas, fez, desde o início, ao líder do PSD, levou o eleitorado a recear o facto de estes dois partidos juntos, virem a dispor da maioria dos votos, viabilizando assim, e de novo, um executivo com base numa coligação. Não deverá, pois, subentender-se o resultado da votação do Partido Popular como uma intenção deliberada por parte dos eleitores, em penalizar aquele partido, mas sim, como reflexo da vontade expressa de um vasto leque do eleitorado em romper com a prática política que vinha tendo lugar. Em meu entender, a liderança de Paulo Portas tem somado resultados positivos para o PP. O seu portfolio político foi enriquecido com a participação nas pastas governamentais do anterior executivo (talvez, com excepção, para a pasta da defesa, que, não pretendendo ser uma crítica directa a Paulo Portas, deverá ser lida na medida em que, num país com um elevado défice de carências a todos os níveis, é bastante discutível a canalização de verbas avultadas para um Ministério da Defesa, cuja gestão, no que diz respeito às Forças Armadas, deveria ser alargada e feita no âmbito de políticas comunitárias conjuntas, extensiva à participação de todos os países. Foi por uma boa causa, eu sei, mas daqui a meia dúzia de anos, o problema colocar-se-à de novo). Para terminar, gostaria de dizer que, nos tempos que correm, não se poderá subestimar as capacidades de liderança de um político, seja ele de esquerda ou de direita, num país em que a oferta de agentes válidos é muito reduzida, sobretudo se tivermos em conta que o produto que o mercado actualmente nos oferece se encontra contaminado, quer por evidentes traços de dissimulação quer por raciocínios conjugados de excesso de "naiveté".
Fernanda Valente