Quarta-feira, 27 de Abril de 2005

Mário Martins Campos - Congresso do CDS

O congresso do Partido Popular teve um desfecho que alguns podem considerar de inesperado.
Na realidade, aquilo que era a força mobilizadora de uma alternativa de liderança para o partido (no pré-congresso) revelou-se demasiado frágil no decorrer do congresso..
As distritais do partido uniram-se em torno de uma moção e de um candidato. Todos pensaram que isso era suficiente para garantir a vitória e enganaram-se. Enganaram-se aqueles, que pensando representar um universo de militantes, não mais representavam do que eles próprios.
Prova mais evidente, do problema estrutural do Partido Popular, não seria possível.
O PP, ao longo da sua história, teve sempre uma cariz presidencialista, e viveu muito em torno do seu presidente. Com Paulo Portas, este carácter acentuou-se, a ponto de se tornar um partido unipessoal. Paulo Portas com uma liderança forte e muito centrada na sua figura, minou de alguma forma as estruturas do partido, deixando estas de viver para lá das fronteiras do líder. Os presidentes das distritais, mais não eram do que representantes locais do líder, e com isso perderam poder e influência nas suas estruturas locais.
Era evidente, antes do congresso, com todo o processo pós-eleitoral, o estado de falta de estrutura e consistência que o partido vive.
Vejamos então: Os resultados eleitorais, das ultimas eleições, foram penalizadores para a maioria de centro-direita que governava o País, e isso seria justificação mais que suficiente para a demissão de Paulo Portas, como o próprio entendeu. No entanto o resultado eleitoral do PP, objectivamente analisado não justifica o descalabro pós-eleitoral em que o partido entrou. Tal facto, só é justificado pela falta de sedimentação política que o partido padece.
O eleitorado do PP é um eleitorado volátil, de 2002 para 2005 mudou de forma radical, demostrando de forma clara a falta da existência de “um eleitorado de direita”. Este facto foi de alguma forma justificado por Paulo Portas, durante o congresso, quando afirmou a existência de uma “anemia cultural no nosso campo político”, no entanto não justifica tudo.
O alicerce único de um “líder forte”, não é, nem nunca será suficiente para suster um partido político, que se queira estrutural da matriz política nacional, e capaz de consolidar uma verdadeira corrente ideológica, capaz de resistir aos percalços da História.
Mário Martins Campos



publicado por quadratura do círculo às 19:27
link | comentar | favorito

Manuel Oliveira Neves - Contra a injustiça

Quando em 1974, ainda em Moçambique, aderi ao Movimento das Forças Armadas e consequentemente tal como o Dr.Almeida Santos, meu prezado amigo,ao Grupo de Democratas de Moçambique, eu, com a nobreza e idealismo impolutos dos meus na altura 25 anos de idade, jamais pensei ser possível vir a assistir 31 anos depois de tanta luta e sofrimento, à "lobbyzação" corporativismo ou o que quer que seja da Justiça. De facto... deixei de ser militante do Partido Socialista há cerca de 3 anos,mas continuando fiel aos meus princípios ético/democráticos, não deixei de aspirar a um modelo de sociedade rigorosamente diferente daquela que antecedeu o 25 de Abril de 1974. E assim ao longo dos anos me tenho mantido, apesar de ventos e marés em contrário. Continuo contudo a militar de motu próprio pela democracia e por um socialismo moderno,actual e europeu,cumprindo sempre o meu direito de voto e continuando a ser o sócio efectivo nº.2731, da Associação 25 de Abril, que não sendo um partido politico,ali acolhe o que de melhor existe da enorme pleíade de lutadores pela Democracia em Portugal.
Constrange-me contudo verificar, que muitas vezes (demasiadas) os reais principios de equidade e justiça,não se aplicam no nosso País. Todos os dias são libertados criminosos,em virtude da ineficácia e do deixa andar da Justiça.Em contrapartida, homens bons,são sacrificados ao sabor de ódios antigos,invejas e por vezes por qualquer Despacho ministerial. Não foi por isto que lutei e luto,lutarei sempre,com a convicção de um Mundo melhor para os meus filhos, e para os vossos também,embora por vezes a cegueira do Poder não lhes deixe vêr ou pelo menos aperceberem-se do mal causado.
Saudações cordiais para todos e Viva Portugal.
Manuel Oliveira Neves
publicado por quadratura do círculo às 19:25
link | comentar | favorito

Mariana Távora - Sobre o aborto

Já estou irritada com a discussão incessante da nossa classe política à volta do aborto!
Caso não tenham reparado, Portugal enfrenta sérias dificuldades - o aborto não é sequer um tema que actualmente justifique qualquer discussão.
Mais importante seria discutir apoios para que as pessoas tenham condições para ter filhos. Quantos jovens não há por aí, que gostariam de ter filhos e não podem por falta de apoio do Estado. Caso não saibam, enfrentamos actualmnte um sério problema de infertilidade e os casais que querem legitimamente ter um filh, quando se irigem a um hospital estatal esperam mais de um ano só para uma primeira consulta, que noermalmente é adiada antes sequer de vir a ocorrer. Vêem-se assim obrigados a recorrer a clínicas privadas, onde cada tentativa pode custar mais de € 2.500,00!!!!
Porquê tanta preocupação em permitir o aborto e nenhuma nesta área? Há aqui alguma justiça social? Não seria mais importante combater o envelhecimento da população e aumentar a força de trabalho?
Falo abertamente sobre este problema, e já tendo passado pelo problema de ter de optar pela vida. Fui mãe há cerca de um ano de uma filha que nasceu com uma série de más-formações cadíacas - tendo-me sido dada a opção de abortar.
Colocada perante o dilema, pensei para mim, se tiver de morrer, morrerá, como aliás sucede com qualquer um de nós - se pode ter uma hipótese de vida, quem ou eu para lhe negar?
Optei bem - a minha filha foi operada a nascença, sem que o Estado me tivesse apoiado em nada e terá de ser operada novamente para ficar completamente boa, mas é uma criança alegre e cheia de vida. Ainda bem que não ouvi os primeiros conselhos que me deram, dinheiro arranja-se sempre, sou advogada, mas se for preciso posso lavra escadas ou atender atrás de um balcão de uma loja qualquer!
E podem crer que nem sequer foi uma opção motivada por qualquer motivo religioso - o ser humano deve, em qualquer circunstância lutar pela vida, ou pela hipótese desta, ainda que remota ou em condições que não sejam as ideais.
É preciso ajudar as pessoas a terem filhos, só assim o país pode avançar. O aborto não é uma preocupação nacional - acresce até que quem o fez prefere manter-se na clandestinidade - acham que eu gostaria de dizer a alguém que abortei?
Qualquer lei que for aprovada apenas contribuirá para a abertura de clínicas para pessoas com dinheiro, qu assim escusam de ir até Badajoz - porque é que não copiamos o que Espanha tem de bom e ao invés de copiarmos o desnecessário!
Mariana Távora

publicado por quadratura do círculo às 19:14
link | comentar | favorito

Fernanda Valente - Posições de Marques Mendes

Aprendi com a geração que me precedeu, e tentei incutir esse princípio à que me sobreviverá, que, passar a mão pela cabeça de alguém em sinal de complacência com atitudes contrárias ou transgressoras de comportamentos que supostamente possam incorrer em prejuízo de terceiros, não é o mais correcto nem o mais desejável numa sociedade que atingiu já um determinado patamar de evolução. Sem pretender ser este um acto persecutório em relação ao Dr. Marques Mendes, destaque deverá ser feito às iniciativas que foram por ele tomadas na qualidade de presidente do PSD:
1. O porquê da urgência em realizar o referendo europeu antes do referendo sobre o aborto ou da alteração à lei que prevê a delimitação de mandatos e que deveria entrar em vigor antes das próximas eleições autárquicas? A esta pergunta é dada a resposta daqueles que nem sequer desejariam ver referendado o Tratado Constitucional Europeu, que se propõe alterar, desconheço em que termos, a nossa Constituição basilar de 1976.
Se o “povo” é ignorante, a culpa é dos políticos que desde sempre preferiram o estado de ignorância ao cabal esclarecimento dos cidadãos, cujos ensinamentos básicos de política deveriam ser ministrados desde cedo, a partir do banco escolar. Se o “não” ao Tratado Constitucional em França prevalecer, como tudo indica, não faz sentido avançar-se com a realização de um referendo em Portugal, antes da Comissão Europeia proceder à necessária revisão do referido Tratado, como naturalmente irá acontecer. No caso em que aquele Tratado Constitucional venha a ser ratificado por todos os Estados membros da CE, então dever-se-à dar início a debates públicos generalizados no sentido do “sim” português, como seria curial e digno, por parte dos nossos políticos, para o devido esclarecimento dos nossos concidadãos.
2. A questão da obstacularização à lei da delimitação de mandatos a ser apresentada em Assembleia pelo partido socialista: o porquê e a quem mais serve esse propósito? Só mesmo o Dr. Marques Mendes para nos esclarecer sobre este ponto.
3. Por último, e, na minha opinião, a decisão mais errática tomada desde que assumiu a liderança do PSD; nomear o Dr. Carmona Rodrigues como candidato à autarquia de Lisboa nas próximas eleições. Tem razão a Dra. Helena Lopes da Costa quando se questiona: porquê o Dr. Carmona Rodrigues e não o Dr. Santana Lopes? É, pois, conhecido o desejo incontornável de SL em candidatar-se de novo à Câmara Municipal de Lisboa.
O Dr. Carmona Rodrigues fez parte de uma equipa de técnicos escolhida pelo Dr. Santana Lopes para gerir os destinos daquele município no último acto eleitoral autárquico. Uma equipa que é constituída por um “cabeça de lista”, é seu desígnio funcionar no seu todo, coesa, para o bem e para o mal. A tentativa de aproveitamento da desgraça alheia para fazer vingar planos pessoais, é contrária ao espírito de solidariedade e princípio da deontologia política a ter em conta por cada um dos elementos que integram essa mesma equipa. A aceitação do convite é já de si reveladora de um dado de carácter a ter em conta no próximo pronunciamento popular. Por outro lado, também não ponho de lado a hipótese de se tratar de mais um jogo de secretaria a ser levado a cabo pela criatividade de certos políticos …
Por mim, e enquanto eleitora do município lisboeta, continuarei a aguardar a apresentação de novos candidatos, sendo obrigatório que reúnam um sem número de qualidades, pois, só assim, se levará a bom porto a resolução de todos os impasses que foram criados nesta instituição camarária.
Fernanda Valente



publicado por quadratura do círculo às 19:09
link | comentar | favorito

Diogo Roquette - Soares e o Papa

Mário Soares brindou-nos com mais um pensamento: está desiludido com a escolha do cardeal Ratzinger para o trono de S. Pedro. A igreja vacilou; a fim de rectificar o erro cometido, o Vaticano admitiu convocar de imediato novo concilio; os cardeais, desesperados, deambulavam nos corredores da Capela Sistina interrogando-se se não seria o fim do catolicismo. Para evitar novos equívocos com tão grandiosa figura, foram dadas ordens expressas a todos estruturas eclesiásticas do mundo: Se o ancião exclamar preservativo! A igreja deve exclamar “Harmony”! se o mesmo exclamar aborto! De imediato deve ser gritado por todo e qualquer católico, 42 semanas! Se vociferar teologia da libertação! Todos em coro dirão ámen! Que importa se o mundo e a igreja se transformarem no “cabaret da coxa”: o mundo não para, o progresso não para, há que ser, como explicar? Modernaço, “pra frentex”. Haja santa paciência.
Diogo Roquette
publicado por quadratura do círculo às 18:59
link | comentar | favorito
Terça-feira, 26 de Abril de 2005

Fernanda Valente - Elevação do CDS

Primeiramente, parabéns pelo nível de elevação que presidiu ao XX Congresso do CDS/PP. Foi um raro momento televisivo que nos manteve atentos ao ecrã pela noite dentro.
O discurso de despedida de Paulo Portas, foi, como todos os anteriores sempre foram, frontal e assertivo. Mas este, pela primeira vez e desde o abandono de Durão Barroso, teve o mérito de reconhecer publicamente a culpa directa do então primeiro-ministro, no desencadear de uma crise política sem precedentes, de dimensões até aqui ainda não quantificadas, cuja tendência natural é a continuidade da sua propalação. No entanto, esta crise tem vindo a verificar-se inócua, pelo que tem contribuído para a renovação de todo o sistema político-partidário desde as ideologias de esquerda até às da direita propriamente ditas.
Mas, Paulo Portas, também afirmou, a título de recado à próxima liderança, que o partido não deveria passar da "governabilidade à marginalidade". Por outras palavras, segundo ele, o mais certo era manter-se numa linha de continuidade, obviamente a que Telmo Correia subscrevia, ou seja a continuidade do nada, de coisa nenhuma. (Contudo, a avaliar pelo rosto de satisfação que apresentava Paulo Portas no final do Congresso, esta minha apreciação poderá ser bastante falível).
Entendo que marginal tem sido a política do CDS/PP de há uns anos para cá, sempre funcionando como apêndice do partido social-democrata, sempre mendigando participação política nos seus projectos governativos, indiferente à força que essa participação sempre teve na viabilização dos executivos liderados por este partido, designadamente o último em que muito e bom trabalho foi feito, e que sem a participação do CDS/PP, isso não teria sido possível. O CDS/PP, por seu turno, sempre exigiu muito pouco em troca, resumindo-se o retorno dessa colaboração à atribuição da tutela de alguns ministérios, porventura os de menor relevância política.
A apetência que é conhecida a Marques Mendes pelo não envolvimento de parceiros estratégicos nos planos eleitoralistas do seu partido, justificando este facto os anticorpos que, entretanto, criou contra eventuais futuras coligações com o CDS/PP, e a simultaneidade da nova liderança deste partido, protagonizada por Ribeiro e Castro, são dois factores determinantes para que o CDS/PP comece a pensar com a sua própria cabeça, a andar pelos seus próprios pés ... o terreno é bastante promissor, prevendo-se que as árvores dêem os seus frutos a quem os queira e saiba colher.
Fernanda Valente

publicado por quadratura do círculo às 21:57
link | comentar | favorito

Mário Martins Campos - Aborto e Papa

1. O debate sobre a interrupção voluntária da gravidez está de novo, e de forma recursiva, na ordem do dia.
Hoje como há 30 anos, estamos perante um debate circundado pelos mesmos argumentos, que se mantêm apesar de todas as evoluções e convulsões sociais, políticas, económicas e cientificas.
Todos os argumentos parecem incapazes de desviar o posicionamento da parte contrária, por mais racionais e fundamentados que sejam. E porquê? Porque se existe ponto de concordância sobre esta matéria, é que ela é uma matéria onde as convicções mais profundas e a consciência individual impera, de forma irredutível e incontornável.
É aqui que eu penso estar o centro do problema, ou pelo menos o fulcro da solução.
Sendo que se trata de uma questão do foro da decisão individual, que só pode ser efectivamente avaliada perante as condições reais, que envolvem tão dolorosa decisão, só a despenalização de tal acto pode dar espaço à liberdade de decisão de cada indivíduo ou família.
Os defensores do “Não” parecem querer dar apenas liberdade de expressão aos que defendem o “Sim”, mas negam-lhes as possibilidades de terem liberdade de acção, tirando desta forma, o tema do foro individual e da decisão circunstancial, para o domínio da imposição legal de uma regra de consciência.
Será que faz sentido impor uma consciência colectiva, num tema que é por todos visto como uma questão do foro mais intimo?
Não me parece...
2. A igreja católica tem nesta matéria um papel decisivo, na construção desta consciência colectiva dos seus fiéis. Os dogmas da igreja não são compatíveis, com a liberdade de acção em matérias desta natureza.
Com a eleição do novo Papa Bento XVI, homem de caracter conservador e muito pouco aberto às evoluções da sociedade, que possam a qualquer momento divergir dos dogmas da igreja, prevê-se que, nesta como noutras matérias, venha a existir um retrocesso na mensagem oficial da igreja. Só esperemos, que este retrocesso não se venha a constituir como um factor de divergência entre a cúpula da igreja e a sociedade.
Mário Martins Campos




publicado por quadratura do círculo às 21:38
link | comentar | favorito

Margarida Ribeiro - Sobre o aborto

Perguntas:
1 - Se deitarmos para uma lixeira o cadáver de uma pessoa e o queimarmos, o Estado e a Igreja condenam-nos, não é verdade?
2 – Se antes dos 5 meses de gravidez uma mulher sofrer um aborto natural, o Estado e a Igreja aceitam sem problemas que o embrião, ou feto, seja misturado com o lixo do hospital e devidamente queimado. Não é assim?
3 – De “sins” às perguntas anteriores, depreende-se que nem o Estado nem a Igreja concedem, nesse período, o estatuto e dignidade de ser humano aos referidos embrião ou feto… Será isto?
4 - Se assim for, sob que pretexto o Estado e a Igreja se podem opor ao aborto?
Margarida Ribeiro



publicado por quadratura do círculo às 20:12
link | comentar | favorito

António Gouveia - Novo Papa

Há quem diga que, nos últimos anos era este Cardeal que exercia as funções de Papa. Acredito que fosse. Ao pretender um Papa de transição, não me parece que seja este o melhor. Não me parece que vá mudar o que quer que seja.
Ao escolher um Papa que sai do Vaticano fica-se com a ideia que não há abertura a nível interno da Igreja.
A Igreja Católica regrediu ao escolher este Papa. Não se prevê qualquer evolução ao nível das ideias fundamentais da Religião (ver post sobre João Paulo II). A este nível não há fumo branco.
Havia quem não gostasse da procura incessante pela Paz por parte do seu antecessor. Veremos qual a política de Bento XVI nesse campo. Se a procura ou se fica fechado no Vaticano. O mesmo se aplica às visitas pastorais de João Paulo II.
No meio entender só na próxima década existirá mudanças na Igreja. Ratzinger com 78 anos, ainda viverá mais 5? - até 2010?
António Gouveia
publicado por quadratura do círculo às 20:07
link | comentar | favorito

João Viveiro - Limitação de mandatos

A limitação dos mandatos está na ordem do dia, é a discussão do momento! Não será esta limitação contraditória com o conceito de democracia? Sem dúvida! O exercício livre e efectivo da democracia, não pode ser substituído por disposições legais por melhores intenções que estas possam ter. Teoricamente e no plano dos princípios, sem dúvida que à primeira vista, a limitação de mandatos parece ser disparatada e até de efeito inócuo; talvez de efeito semelhante ao da "regra das quotas", no que se refere à inclusão de mulheres, a qual também não é pacífica. De facto esta medida atingirá em consciência, os direitos de escolha do eleitorado, impedindo que estes votem nos dinossauros. Contudo, a sua inconstitucionalidade não se coloca, uma vez que se entende não haver restrição a qualquer direito fundamental, pelo que a Constituição consagra o «princípio da renovação» no seu artigo 118º, onde se lê que «a lei pode determinar limites à renovação sucessiva de mandatos dos titulares de cargos políticos e executivos».
Em consciência, cada um de nós deveria reflectir se, passados 12 anos de mandato, não poderá haver também outras pessoas, até no mesmo partido político, que reúnam um conjunto de capacidades e competências que, pelo menos, complementem o trabalho que o seu antecessor desenvolveu?
Por outro lado, a longevidade do poder, característica essencial de qualquer ditadura que se preze, apesar de nos parecer já longínqua, está bem presente na memória colectiva das pessoas da minha geração, causando-nos, pelo menos, uma grande sensação de desconforto. Afinal muitos de nós lutaram contra a ditadura e o regime abominável do Estado Novo. Se é uma vantagem conhecer os dois lados, mais importante é saber que as novas gerações nem compreenderiam as motivações de um regime político ditatorial, que não permita sequer o elementar direito ao livre pensamento dos cidadãos!...
Mesmo depois de Abril, é lícito reflectir sobre a questão do perpetuar inquestionável dos mesmos actores, no exercício dos cargos políticos, nesta democracia representativa que se baseia, fundamentalmente, nos triturantes aparelhos partidários, cujos dinossauro-militantes se fazem prevalecer nos respectivos directórios, não abdicando do seu peso militante. Assim, os partidos do poder, além de acomodarem os referidos actores nos tão propalados lugares, vão protagonizar nestes, a chamada polivalência militante, isto é; os mesmos protagonistas servem para tudo ou quase tudo. Se não, atente-se: quando os detentores das pesadas militâncias, não se integram nas listas de deputados, são potenciais presidentes de câmara, quando deixam, ou não são eleitos presidentes de câmara, servem para governadores civis, quando não são governadores civis, servem sempre para outra coisa qualquer, quando… E esta roda não pára nunca, nas habituais clientelas dos partidos do poder. Casos não faltam para ilustrar o que acabo de referir, bastaria para tanto atentarmos na última passagem de testemunho, já após 20 de Fevereiro. Despachos e nomeações para segurar as clientelas que deveriam sair, mas que a todo o custo se agarram nos cargos, impedindo ou dificultando as novas clientelas que se perfilam para entrar, pois agora é a sua vez de se servirem. O importante é a obtenção do famigerado lugar de relevo pelas ditas, (condição de militante). A competência, essa, deixa de ter qualquer relevância em relação ao peso que a militância revela.
O Jornal Público refere que dos 308 presidentes de câmara, 67 exercem o cargo há mais de três mandatos. Cerca de um quinto do total. O PSD de Marques Mendes (cedendo a pressões de Jardim), vem agora dizer que a limitação de mandatos deve aplicar-se no futuro e nunca retroactivamente, referindo que estes princípios essenciais não se negoceiam. Ou seja, se esta lei só começa a contar (três mandatos depois), acabando por ser um faz-de-conta. (É só rir!...)
Se ambos os partidos estão de acordo, vamos ser sensatos!.. Se a ideia é moralizar e evitar caciquismos, que existem certamente em todas as forças políticas, não me parece que se consiga já, mas é uma boa notícia caminharmos nesse sentido. Se 67 presidentes têm agora mais de 3 mandatos, abrangendo um leque variado de actores, então porque não começar contar desde já? Porquê só 3 mandatos adiante? Claro que haverá sempre uma grande disparidade entre os que se candidatam agora e os que já cá estavam. Tanto que o Presidente do PSD madeirense baptizou o diploma com o seu nome. Prometendo ficar a rir-se da lei. Alberto João Jardim está convencido que a proposta de lei é à medida de si próprio, referindo que “uma vez que não lhe conseguem ganhar nas urnas, há que lhe ganhar na secretaria”. Este dinossauro da política, está há 27 anos no poder! Com mais 3 mandatos (propostos por Marques Mendes) chegará ao 40 anos, estabelecendo um novo recorde de tempo de governação nas democracias ocidentais e por pouco, arriscava-se quase a bater o recorde de Oliveira Salazar. E pensar que ainda há quem defenda este estado de coisas… Simplesmente lamentável!...
Passados que são mais de trinta anos sobre Abril, é notório que continuamos o nosso gradual percurso de aprendizagem da democracia. Neste sentido, é importante que alguém tenha dado um primeiro passo no sentido de melhorar a qualidade da nossa democracia, tornando-a mais adulta, autónoma e equilibrada. Afinal tal como o Presidente dos Estados Unidos, (a mais paradigmática das democracias do mundo) o cargo de Presidente da República está limitado a apenas 2 mandatos, sendo esta limitação uma questão pacífica.
É no entanto desejável uma reforma mais vasta! É minha convicção que a qualidade da democracia está fortemente dependente da capacidade de renovação dos dirigentes políticos, de uma maior mobilidade entre o exercício desses cargos e o desempenho de funções privadas, de uma maior competição no acesso e de um substancial alargamento da base de recrutamento desse pessoal; a política teria muito a ganhar com uma participação mais alargada dos cidadãos e uma maior competição no exercício dos cargos públicos.
A proposta de lei vale o que vale, parecendo no entanto ir permitir, minimamente, a renovação dos protagonistas na política portuguesa e reeleger novos actores nos cargos executivos; pena é que a lei não seja já extensível à maioria, se não a todos, os cargos políticos. Acredito, seguramente, que com o tempo vamos lá!...
João Viveiro
publicado por quadratura do círculo às 19:56
link | comentar | favorito

.pesquisar

 

.Fevereiro 2007

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
16
17

18
19
20
21
22
23
24

25
26
27
28


.posts recentes

. Carlos Andrade - Suspensã...

. Carlos Andrade - Suspensã...

. Teste

. João Brito Sousa - Futecr...

. Fernanda Valente - Mensag...

. António Carvalho - Mensag...

. João G. Gonçalves - Futec...

. J. Leite de Sá - Integraç...

. J. L. Viana da Silva - De...

. António Carvalho - Camara...

.arquivos

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

. Outubro 2006

. Setembro 2006

. Agosto 2006

. Julho 2006

. Junho 2006

. Maio 2006

. Abril 2006

. Março 2006

. Fevereiro 2006

. Janeiro 2006

. Dezembro 2005

. Novembro 2005

. Outubro 2005

. Setembro 2005

. Julho 2005

. Junho 2005

. Maio 2005

. Abril 2005

. Março 2005

. Fevereiro 2005

. Janeiro 2005

. Dezembro 2004

. Novembro 2004

. Outubro 2004

. Setembro 2004

. Julho 2004

. Junho 2004

. Maio 2004

. Abril 2004

. Março 2004

. Fevereiro 2004

. Janeiro 2004

blogs SAPO

.subscrever feeds