Terça-feira, 28 de Setembro de 2004
Desde o 25 de Abril que se começou a construir o mostro. Na construção do dito monstro (s. m. - do Lat. Monstru - 1. Ser organizado, animal ou vegetal que apresenta conformação muito diferente da que é natural na sua espécie; 2. Animal ou coisa de grandeza desmesurada ... ) participaram, de maneira vária e contributo diverso, os Governos da Nação, os Partidos - os do governo e da oposição - Associações de Pais, Sindicatos de Professores, Universidades - Públicas, Privadas e Cooperativas -, Conselho Nacional de Educação, enfim, figuras singulares de respeitável saber. Aos professores coube realizar o que todos os outros sonharam e cuja essência se encontra na (com)sagrada Lei de Bases do Sistema de Ensino de 1986: educar a todos, em todos os lugares, segundo os mesmos princípios, durante igual período de tempo.
Aquilo que se quis fazer foi um sistema. Porém, os arquitectos eram vários,
foram(-se) mudando e aquilo que hoje um programava, o outro desprogramava; aparecia um e acrescentava mais uma disciplina; depois vinha outro e acrescentava uma área; acharam todos que o melhor era alterar todos os programas e aumentá-los a todos. De um modo ou de outro todos quiseram deixar a sua marca.
A prova de que se trata de um mostro que cada novo ministro da Educação continua a alimentar e aumentar é a barafunda das listas de colocação dos
professores: já nem os computadores naquilo que no monstro é computacional conseguem ordenar. Lá está: é que o monstro por definição não é ordenado, tem excrecências, é desproporcionado ... é caótico. É preciso dizer que qualquer outra parte (se é que há partes num caos!) do monsto o resultado é o mesmo, só que como não é de ordem computacional e não exige que para uma parte para bater certo todas as outras batam certo também e como ninguém sofre particular e concretamente com isso ou não se dá conta ou não se reclama.
O monstro é tão ingovernável que quando se trata de constituir governo para a nação, nunca ninguém se importa com as competências ou perfil do escolhido para governar o monstro e os escolhidos porque sabem que o monstro é ingovernável também não se intimidam, nem se importam. Como tanto faz, David Justino aceitou que por imperativos de arranjos coligacionais lhe pusessem um secretário com quem, ao que dizem, não falava, e uma secretária que quando falava não cometia lapsos, como muitos diziam, mas traduzia o que genuinamente pensava, sendo aquilo que pensava pôr em prática inconstitucional. Os resultados desta bela equipa estão à vista.
O que será preciso ainda acontecer mais para se darem conta do monstro?
Que há 50 ou 100 mil professores que não estão satisfeitos com o local de trabalho e por isso querem mudar de escola?
Que de repente, uma grande parte dos professores descobriu que tinham doenças perigosas, gravidezes de risco, menores para tratar, ascendentes dependentes dos seus cuidados, deficiências ... e sei lá que mais?
Que há cerca de 30 mil professores que depois de tudo isto vão ficar desempregados (trata-se pe pessoas que estudaram cinco anos na Universidade e que fizeram um estágio profissional...)?
Que os professores que não conseguem estar nas escolas para que concorreram, muitos deles, dado o vencimento auferido, não podem instalar-se num hotel, não podem alugar um apartamento e têm de se contentar, quantas vezes com um quarto; que os professores deslocados um ano numa escola, esperam que o tempo passe depressa e dão tantas faltas quantas podem para ver se o dinheiro que lhe dão dá para sustentar o vínculo ao emprego e à esperança de dias melhores; que os professores deslocados não podem contruir as suas vidas nem ajudar a construir as dos seus alunos; que por tudo isto (e não só) os professores trabalham mal e os seus alunos têm insucessos assustadores; que o Estado paga a todos os professores por igual trabalhem muito ou pouco, trabalhem bem ou trabalhem mal; que não lhes pode pagar de modo diferenciado porque a avaliação que faz do seu desempenho é uma farsa que pretendeu substituir o sistema anterior de progressão na carreira por antiguidade; que ninguém quer avaliar ninguém porque os avaliadores teriam também de ser avaliados; que ninguém sabe (se sabe não diz) quanto custa um aluno em cada escola - vai longa a ladaínha e não chegou a meio.
Se não dermos luta ao monstro, devorar-nos-á implacavelmente.
Luís Leonardo