Quarta-feira, 14 de Julho de 2004
A turbulência política está aí.
Em tudo o seu esfumado esplendor.
Na preparação dos directórios partidários, trocam-se ideias, traçam-se novos capítulos.
Não ouvi falar, ainda, de projectos mas só de nomes. Continuamos na fulanização e personalização da política.
Aguardo com curiosidade e expectativa o que os directórios dos partidos nos vão propor, os seus projectos nacionais, para mobilizar um povo, sedento de desígnios superiores.
Aguardemos.
Entretanto, detenhamo-nos sobre o passado próximo e os seus acontecimentos.
Factos a reter, sem nenhuma ordem de mérito:
- Uma decisão do Presidente da Republica, discutível e contestada de formas nem sempre correctas;
- Uma decisão do ex-primeiro ministro, para uma candidatura a um cargo europeu, controversa do ponto de vista interno, mas que arrastará o nome de Portugal, para bem ou mal veremos, para os píncaros da política da União Europeia;
- A realização do Euro 2004 como um valor acrescentado para Portugal e a sua população - falo exclusivamente da sua realização e não dos antecedentes que lhe deram origem.
- O desaparecimento de figuras marcantes da nossa vida como Sophia de Mello Breyner (cujo perfume poético inebriou gerações e a convicção e coerência das ideias merecem o nosso respeito), como Maria de Lurdes Pintasilgo (cuja dimensão de humanidade permitiu suportar uma afirmação politica), como António Sousa Franco (que mostrou como é possível ser coerente em politica, dando-lhe dimensão nacional), como Lino de Carvalho (que honrou um Parlamento, dando-lhe substância de ideias, mesmo que não se concorde com elas), como Henrique Mendes ( que foi, para muitos, a cara da Televisão, acrescentando-lhe um profissionalismo que não abunda) - são exemplos de pessoas que atravessaram a nossa vida , deixaram obra que orgulha o povo a que pertencem;
- A elevação, mais uma portuguesa, a património da humanidade dos vinhedos do Pico.
Destes factos citados, certamente poucos do universo onde se inserem, alguns deveriam merecer especial atenção.
São exemplos da maturidade de uma nação, da sua cultura, da sua afirmação no mundo.
Relevemos os importantes, de dimensão, esperando a sua repetição (obviamente não de mortes), para constituírem mais motivos de orgulho.
Releguemos para os confins da memória os outros, os que nada acrescentaram ao nosso orgulho de ser português.
Há pessoas que nos podem desafiar para sermos melhores; assumam a sua oportunidade e terão resposta, em mérito, dos portugueses.
Rui Silva