Quarta-feira, 1 de Março de 2006
Depois de 48 anos de uma longa noite fascista, surgiu uma madrugada que se supunha ser breve e radiosa como augúrio do nascimento de um dia soalheiro e primaveril.
Infelizmente, este prenúncio de alvorada que leva já 32 anos de vida, tarda a finar-se, arrastando atrás de si uma população descrente, desmotivada, e acomodada ao fado (triste?) do nem é carne nem é peixe
desprezando quem ouse dizer-se vegetariano.
Depois de um passado de batalhas, de descobertas, de conquistas, de viagens épicas, de feitos que marcaram toda uma História, Portugal aninhou-se envolto numa apatia profunda, num extenuamento generalizado que pouco a pouco definha numa vulgar cinza que se oferenda a sábios ventos bandoleiros.
Embrenhados nesta penumbra que nos consome, saibamos retirar do facto as ilações devidas: avessos que vivemos a mudanças, alterações, desvios, hábitos, a tudo aquilo que altere a nossa maquinal repetição enfadonha de palavras ou actos, limitamo-nos, hoje, a lamentar o não termos nascido num outro qualquer país europeu, como se isso fosse a solução do problema.
A forma negativa como sintomaticamente se reage a certas medidas que se pretendem incrementar, tem a sua razão de ser se confrontadas com a saturação causada por toda uma classe de governantes que desfilou, e desfila, perante a nação.
Embora a actual gestão política não seja aparentemente crível, (veja-se a opção pelas grandes obras públicas, o silêncio sobre as SCUTS após o Relatório do TC, ou o facto de em 12 meses de gestão a decoração rosa
marcar presença em tudo o que é cargo de decisão), propôs-se mexer em matérias julgadas intocáveis, qual elefante em loja de porcelanas raras, situação que deixa uma porta entreaberta para a concessão de um pequeníssimo benefício da dúvida.
No entanto, de boas intenções está o inferno cheio, e a paciência da actualidade não se coaduna com esperas de médio ou longo prazo. Há 80
(oitenta) anos que o País está mergulhado na tal penumbra, ansiando como de pão para boca pelo dia soalheiro e primaveril!
António Carvalho