Quinta-feira, 24 de Novembro de 2005
Sou professor do ensino secundário há 31 anos e não aderi à greve no dia 18.
Na última greve em que participei, de modo activo, todos os sindicatos de professores estiveram unidos e foi uma luta por um estatuto da classe que não havia. Depois tivemos estatuto e ficámos todos muito contentes com alguns contratempos que se foram ultrapassando, uns por incumprimento, outros por revogação. Entre estes, foi abolido o trabalho de natureza educacional a que se estava obrigado para transitar ao oitavo escalão. Os primeiros a dele se isentarem foram os sindicalistas. Eu que não era sindicalista, apresentei-o atempadamente, perante o olhar censório dos que o criticavam. Vieram eleições e António Guterres prometeu (e cumpriu) acabar com o obstáculo que impedia que a classe de carreira única - chegasse toda ao topo. Somos todos iguais sendo indiferente que se tenha de cantar rimas infantis e bater palmas ou explicar a Fenomenologia do Espírito; todos juntos nesta fraternal caminhada bastando deixar que o tempo passe. O princípio real é: trabalho desigual (em quantidade e qualidade), salário igual. Caro que nem todos os professores são faltosos, nem todos trabalham pouco. Ora, a injustiça está exactamente em estes terem um tratamento igual.
Esse é o processo para instalar a mediocracia (entendida não como o poder dos médios mas dos medíocres). Quando se apresentam os números do abandono e insucesso escolar o que seria admirável é que os resultados fossem diferentes. O meu cansaço vem de dentro, daquilo que os professores se fazem a si e não tanto do que fazem aos professores. Não fiz greve, porque os sindicatos ( e os sindicalistas) são os mesmos que contribuíram para esta situação e é mesma a lógica em que continuam. E eu não vou por aí.
Amora da Silva