Terça-feira, 26 de Setembro de 2006
Os pessimistas são de opinião que a humanidade desaparecerá da face da terra dentro de 100 a 150 anos. Os optimistas pensam que isso só ocorrerá dentro de 200 a 250 anos...
Não se trata de uma piada , trata-se da análise feita por diversos cientistas de renome internacional. Recentemente o site Yahoo Answers na sua iniciativa «Pergunte ao Planeta» convidou individualidades de diversas áreas a pronunciarem-se sobre o futuro da humanidade. O conhecido físico Stephen Hawking colaborou na iniciativa e convidou os cibernautas a responderem à sua pergunta: Num mundo em caos político, social e ambiental, como poderá a humanidade sobreviver outros cem anos?» (a própria pergunta estabelece um limite temporal). Na opinião de Hawking os principais perigos são os seguintes:
guerra nuclear,
alterações climáticas (a continuação de emissões de CO2 pode ultrapassar um limiar critico a partir do qual o aumento de temperatura se sustenta a si próprio),
cada vez que aumentamos o nosso poder tecnológico, acrescentamos novas possibilidades de desastre,
Estamos a derrubar árvores em toda a parte, a pescar em toda a parte, a irrigar em toda a parte, a construir em toda a parte, e não há canto da biosfera que escape à nossa hemorragia de desperdício.
Mas por quanto temo podemos suportar uma fornalha de consumo tão frenética que o lado escuro do planeta brilha como um tição na noite escura do espaço
Durante cerca de um milhão e setecentos mil anos (1.700.000.000) a humanidade viveu no Paleolítico, ao ritmo da caça e da recolecção, de cada dia, e apenas nos últimos 20.000 mil anos iniciamos a caminhada do processo a que chamamos civilização: até à construção do primeiro motor a vapor, nas primeiras décadas do século XIX o homem deslocava-se à velocidade permitida pelo vento ou pelos músculos (quase uma semana para ir de, diligência, de Lisboa ao Porto).
O ritmo das mudanças sociais e materiais, transmitidas oralmente de geração para geração, passou bruscamente milhares de anos (centenas de anos no Idade Média) para décadas, e às vezes menos, na actualidade. Na verdade, não chegamos a adaptar-nos à maior parte das mudanças que ocorrem em todos os domínios à nossa volta: simplesmente não podemos porque o nosso ritmo biológico não o permite.
Os conhecimentos que aprendemos aos 20 anos, encontram-se desactualiza-
dos quando chegamos aos 40 e só uma minoria consegue estar actualizada, profissional e culturalmente, quando chega aos 50 anos.
Nada na natureza, (de onde vimos) nenhuma espécie animal ou vegetal, evolui à velocidade alucinante a que a sociedade moderna está a evoluir: é simplesmente contranatura e ninguém sabe para onde caminhamos. A ciência e o progresso entraram num processo de aceleração exponencial que ninguém dirige nem controla, apesar de termos a ilusão que dominamos tudo o que descobrimos e que podemos adaptar-nos a todas as descobertas e novas realidades.
A ideia de progresso é muito recente ( apenas 300 anos, mais ou menos) e corresponde ao desenvolvimento do pensamento laico, da ciência e da indústria e ao declínio das crenças tradicionais.
...Os mitos do progresso serviram-nos bem sobretudo para aqueles de nós que se sentam nas mesas mais abastadas e podem continuar a servir.
O progresso tem uma lógica interna que pode conduzir à margem da razão, à catástrofe. Um sedutor percurso de sucessos pode terminar numa armadilha.
Veja-se as armas, por exemplo.
... andamos muito ocupados a libertar outras forças poderosas cibernética, biotecnologia, nanotecnologia que esperamos venham a ser boas ferramen-
tas, embora não possamos prever as suas consequências. 1
É inerente à vida em sociedade a criação de forças e processos que nenhum dos seus membros, individualmente ou em grupo, consegue controlar, e raramente nos damos conta desta realidade que condiciona a nossa existência.
De onde vimos? Quem somos? Para onde vamos? As três perguntas que atormentaram Gauguin, e certamente muitos outros homens e mulheres, continuam nos dias de hoje com respostas incompletas. Sabemos mais ou menos de onde vimos (a antropologia responde, com lacunas, à primeira pergunta); sabemos ainda muito pouco quem somos (a psicologia e a neurologia começaram há muito pouco tempo a dar algumas respostas); ignoramos, em absoluto, para onde vamos.
Tanto orgulho, tanta arrogância vã, tanta esperança ingénua, para não imaginarmos sequer o que seremos nos próximos cinquenta anos, ou seja daqui a duas ou três gerações futuras!
Talvez porque vivemos milhões de anos a pensar como comer e sobreviver no dia seguinte (armazenar e ter reserva de comida só aconteceu muito recentemente), não temos qualquer treino e capacidade de previsão para, apenas, uma década ou duas.
A actividade científica é hoje praticamente, financiada e manipulada, por grupos económicos e financeiros e pelas instituições militares, o que condiciona (censura) a opinião de muitos cientistas: ciência e tecnologia que garantam o retorno do investimento ou que garantam a continuidade da supremacia militar, daí a dificuldade de investigar e reflectir fora do «cientificamente correcto».
Por outro lado são raros os políticos e governantes que se preocupam com as conclusões da ciência que põem em casa o paradigma (errado) do progresso material ilimitado. Só muito tardiamente as preocupações com a protecção do ambiente, o desenvolvimento sustentado, etc. entraram na agenda política e, ainda assim, pelo quintal.
As políticas de protecção do ambiente, só superficialmente limitam ou condicionam as práticas poluidoras e o seu núcleo duro, do consumo da energia, está num impasse.
O ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, é um dos poucos políticos que luta pela defesa do ambiente e nos últimos dez anos tem realizado uma campanha para sensibilização da opinião pública do seu país. Na sequência dessa campanha publicou recentemente o livro A verdade inconveniente e promoveu a realização de um filme com o mesmo título, que está em exibição em Lisboa.
Trata-se de um alerta fundamentado acerca do aquecimento do clima e das graves consequências que daí resultam: não sua perspectiva não dispomos de 100 ou 150 anos para inverter a marcha para o abismo, mas apenas de uma década ou duas.
João Gomes Gonçalves