Quinta-feira, 3 de Março de 2005
Na vida política portuguesa tem-se provado que a marca e o cunho de líderes fortes e carismáticos tem sempre o reverso da medalha para os seus partidos.
Com Francisco Sá Carneiro, o PSD chegou ao topo da governação mas com a sua prematura e misteriosa morte, mergulhou num período de orfandade apenas terminado graças à célebre rodagem de Aníbal Cavaco Silva até à Figueira da Foz.
Sob a liderança do professor de Boliqueime, o PSD conquistou duas inéditas maiorias absolutas, mas quando Cavaco se retirou, o partido voltou à condição de orfão, com a qual ainda hoje se debate.
Falar do carismático "animal" político chamado Mário Soares é falar do PS. Com Soares, o partido atingiu o estatuto de símbolo incontornável da vida democrática portuguesa, sendo que após a eleição do seu fundador para Belém, a família socialista viveu um longo e conturbado período até António Guterres assumir os destinos do Largo do Rato.
Conquistando consecutivamente duas eleições legislativas, Guterres quase ganhou um lugar no Olimpo socialista, acabando por saír sem glória, após o célebre discurso do pântano. Após nova fase de indefinição política poderá o partido voltar a ter um líder carismático, desta feita com José Sócrates? O futuro o dirá, mas para já apresenta como invejável cartão de visita uma inédita maioria absoluta...
O CDS viu o seu fundador - Diogo Freitas do Amaral, bater estrondosamente com a porta após uma derrota eleitoral histórica, com cerca de 4% dos votos, fez uma penosa travessia no deserto, apenas voltando a ser um partido de poder com a chegada de Paulo Portas à liderança dos centristas. Depois de 20 de Fevereiro, o partido voltou inesperadamente a caír num anedótico período de orfandade ao assistir a mais uma demissão de um líder, após nova derrota eleitoral.
Quanto ao velho PCP, a sua história confunde-se com a de Álvaro Cunhal, sendo escusado referir que nunca mais teve um líder à altura do seu fundador.
Nuno Moreira de Almeida