Terça-feira, 2 de Novembro de 2004

Miguel Teixeira - Eternos inconformados

Parece que desta é que o Verão se foi. O sol já só se apresenta a espaços e ainda assim muito tímido. Aos poucos as nuvens vão tomando o seu lugar, quebrando um reinado que só lá para meados do ano que vem se fará sentir outra vez. Não aprecio o Inverno. O frio, a chuva, o andar carregado de roupas, os dias cinzentos e tristes. O frio ainda vá que não vá, aguenta-se. É acrescentar mais uma peça de roupa – que se acumula em camadas, tal e qual uma cebola – e a coisa vai. Agora a chuva, essa é que me deixa mono, apático, sem humor que me valha. É uma “seca” – embora quem ande à chuva molha-se – e é mesmo costume dizer-se nesses dias que se está como o tempo. Nada mais acertado. E se para compor o ramalhete adicionarmos roupas cujas tonalidades sejam condizentes com a do dia em questão – cinzentos, pretos, cores escuras, em resumo - então é quase garantido que estamos a atrair os efeitos depressivos que atribuímos ao tempo e que tanto gostaríamos de ver pelas costas. É um hábito que se criou de que as tonalidades escuras estão associadas ao Inverno e ao Outono e que é nessas alturas que devem sair à rua. Nada mais errado. São precisamente essas as cores que devemos evitar em dias cinzentos e em que o sol não se apresenta, de forma a combater esse efeito depressivo e negativo que as mesmas têm sobre nós. E já que falo em vestuário, relembro algo que religiosamente se repete todos os anos por esta altura. Não sei se na tentativa de atrair o frio ou de desejarem a sua chegada o quanto antes, muitas são as pessoas que, ainda Setembro vai no princípio, já envergam peças de roupa próprias de temperaturas mais baixas que estão ainda longe de se fazer sentir. É vê-las depois, debaixo do sol que insiste em resistir, a passarem por claros sacrifícios mas não dando o braço a torcer, empenhadas na sua teimosia de que o Verão deveria dar lugar ao frio imediatamente após o final de Agosto. Como que a quererem dizer que, terminadas as férias que sempre recaem na época alta, o sol e o calor já não são necessários, podendo ir à sua vida e dar lugar à estação que se segue. Movidas por esta forma de pensar, são essas as pessoas que cedo começam a remexer no baú dos agasalhos, colocando-os a uso o quanto antes, mais que não seja para os aliviar do cheiro a mofo que entretanto foram ganhando. É caso para pensar que nunca estão satisfeitas, essas pessoas. Se é Inverno, é porque está frio, chuva e nunca mais vem o calor. Se é Verão, é porque faz muito calor e bem que podia cair uma chuvita para refrescar. É típico do portuguesinho, nunca estar contente com nada. Eternas vítimas inconformadas, tão bem retratadas por António Variações num dos seus temas mais conhecidos:
“Porque eu só estou bem, onde eu não estou
Porque eu só quero ir, onde eu nunca fui”.
Miguel Teixeira
publicado por quadratura do círculo às 18:12
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