Terça-feira, 25 de Maio de 2004
A menos de um mês das eleições europeias teima em (não) surgir nos assuntos
(e debates) ditos "europeus", a questão da actual conjuntura internacional.
Garantido já o discurso "clássico", com as questões nucleares a dividir-se
entre a economia (à direita) versus o social (à esquerda), ambos manietados
entre uma "outra" (terceira) questão, ou preocupação, (também ela
"clássica", nestas eleições) de um provável (mas demasiado) elevado grau de
abstenção.
Sendo assim, e já delineadas (aparentemente) as estratégias, iremos assistir a
uma cena "doméstica" de "ajustes de contas" (e "recriminações" mútuas) com
as duas questões (e só elas!) a servir de pretexto "político" para vários
divórcios já consumados .
De um lado, PSD versus PS, o previsível espectáculo de uma ininteligível e
hermética quezília de "cifrões" (ou "lavar de roupa suja" entre
ex-ministros-ex-bloquistas(-centrais)); do outro, PCP versus BE, uma
rebarbativa berraria de "chavões" («sociais», com o Miguel Portas na sua
versão ex-PCP). Em "off, e (auto-)arredados ou confinados no seu beco
"anti-europeista", a (2ª parte) da telenovela da vendetta pessoal PP-PNV
(Portas-Monteiro).
«O que a Europa nos tem dado, ou nos poderá dar», continuará a
ser o moto, positivo ou negativo - somos, afinal, e reiterar-se-á à saciedade,
o "parente pobre" da Europa. Ou seja, como o diz o ditado popular: «Onde todos
ralham e ninguém tem razão». Aguarda-nos, portanto, um baixo nível de
intensidade política, do qual os cidadãos já mostraram (pelas
sondagens) o seu total desinteresse, senão (absoluta) indiferença.
«Qual o lugar de Portugal na Europa?» ou «Qual o lugar da Europa no Mundo?»
(des)aparecerão como máscaras retóricas por detrás da ("pragmática")
pergunta-chave: «Qual o lugar (as vantagens) da Europa em (para) Portugal?».
Ora para muitos analistas (internacionais europeus) este é o "problema
português". Portugal ainda pensa, reflecte, e faz política como um novo
membro o faria, não como um membro já integrado e de pleno direito. Falta-lhe
ainda voz própria, preocupa-se em demasia com política caseira, não formula
grandes reptos. No entanto, é singelo e, na sua singeleza, preocupante. É
detentor da última revolução do continente, sabe fazer política
internacional (o caso Timor é referência internacional), tem algumas
ambições (anote-se a Expo 98), tem potenciais (culturais), mas, ao nível do
discurso (político) impera ou a subserviência ou o queixume.
Não há, discursivamente, (e aqui a excepção, mais uma vez, é o Dr. Mário
Soares) qualquer desenho (próprio) de uma arquitectura coerente ou activa de
política internacional (que mereça menção ou relevo), no enquadramento
europeu. A opção atlantista, face aos últimos acontecimentos foi demasiado
seguidista (para não dizer servil), rapidamente desmoronada pelo efeito
«Zapatero», tem os dias contados (e decalcados) numa agenda de um político
caído em desgraça (ou prestes)(interna; Tony Blair). "Cantou de galo", quando
no auge de uma miragem militarista irresponsável e deplorável (dos EUA),
"cantará fininho" quando, já só, e mais papista do que o Papa, mais ninguém
terá paciência para o seu enfado balizado entre a mediocridade (subserviente)
e os lamentos (de queixume e inveja).
Perguntar-se-á (e bem) o cidadão: para quê ir votar, então?
Gabriel Rafael Guerra