Segunda-feira, 22 de Março de 2004
Sou desde a primeira hora ouvinte do antigo Flashback e mais recentemente fiel telespectador da Quadratura do círculo, cujos méritos me dispenso aqui de enumerar, não podendo no entanto deixar de referir que considero ambos os programas o que de melhor se tem feito nos últimos 20 anos ao nível do debate sobre a actualidade no panorama informativo em Portugal. Os meus sinceros parabéns por isso!
Indo directamente ao que aqui me trouxe, gostaria de deixar algumas palavras sobre as mais recentes intervenções públicas do Dr. Mário Soares.
1º Demonstrando uma vez mais a sua enorme "sagacidade e coerência", veio o Dr. Mário Soares aconselhar o governo a inverter a sua política de contenção do défice, por forma a travar o crescimento do desemprego e acelerar a retoma económica. Contrariando as opiniões de pessoas certamente "menos preparadas", como são os casos do Dr. Victor Constâncio, Prof. Nogueira Leite, Prof. António Borges, só para citar alguns casos, afirma o Dr. Soares que deveria o actual governo optar por uma política expansionista de investimento público. Felizmente a memória sobre o que se passou no último governo chefiado pelo Dr. Mário Soares e em que o Prof. Ernâni Lopes era ministro das Finanças, permite mais uma vez deixar aqui algumas perguntas: alguém se lembra do Imposto Retroactivo Sobre os Rendimentos das Pessoas? Alguém se lembra da contenção das despesas públicas que na altura fez disparar o desemprego e o drama dos salários em atraso? Certamente o FMI e o Banco Mundial, que tanto aplaudiram a coragem política do Dr. Soares, não se terão esquecido.
2º Esta semana ficámos a conhecer a posição do Dr. Soares sobre a forma de travar o terrorismo global: o diálogo com os terroristas. Não me surpreende esta posição do Dr. Soares. A ideia é tão "peregrina" que me abstenho de comentar o seu conteúdo. Não posso contudo deixar de lamentar que uma figura com a relevância conquistada justamente pelo Dr. Soares venha para a praça pública disparar de uma forma algo patética em todas as direcções. Os créditos obtidos no Verão Quente de 1975 ainda lhe permitem dizer alguns disparates, mas a paciência começa a esgotar-se.
João Campos Costa