Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2004

Luís Gagliardini Graça - Aborto (Resposta à posição de Diana Junot)

Exma. Senhora,
Constato que, nem V. Exa. nem o Dr. José Magalhães, responderam a qualquer das questões que coloquei.
Como disse, penso que uma análise séria e racional passa por uma resposta às questões que coloquei. Não digo que todos tenham que pensar da forma como penso. Digo é que não se pode tomar seriamente uma decisão se não for baseada em raciocínios lógicos. Simularei, então, uma resposta às questões que coloquei do ponto de vista de V. Exas.:
1. Um embrião é ou não um ser vivo, da espécie humana, diferente até do ponto de vista genético da sua mãe?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Não! O embrião não é um ser vivo e não é da espécie humana. E é igual do ponto de vista genético, à sua mãe. Razão pela qual a sua mãe, exercendo o seu direito ao corpo, pode eliminá-lo livremente. E razão pela qual é óptimo que clínicas privadas possam passar a ganhar muito dinheiro com abortos legais".
Só que nem V. Exa. nem o Dr. José Magalhães responderam assim, porque sabem que não podem afirmar isto...!!!
2. O seu destino natural é, ou não, o nascimento?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Não! O destino natural do embrião não é o nascimento."
Só que nem V. Exa. nem o Dr. José Magalhães responderam assim, porque sabem que não podem afirmar isto...!!!
3. O que é que distingue (do ponto de vista de individualidade e possibilidade da sua "eliminação") um embrião com 10 semanas de gravidez de um embrião com 11 semanas?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto até às 10 semanas teria que responder, para ser coerente: "Até às 10 semanas o embrião não é um ser vivo da espécie humana, pelo que se pode abortá-lo sem necessidade de se invocar qualquer das causas previstas na actual legislação. A partir das 10 semanas já é". Ou então teria que assumir que, não existindo qualquer diferença entre as 10 e as 11 semanas, ou entre as 11 e as 38, se deveria poder abortar até ao final do tempo de gravidez, o que também não afirmam, nem V. Exa., nem o Dr. José Magalhães.
4. Como explicar que uma mulher possa abortar sem que o pai da criança tenha qualquer possibilidade de defender a vida do seu bebé?
Corrigindo o que disse acima, a esta questão V. Exa. respondeu, mas o Dr. José Magalhães não. E diz V. Exa. que um homem, como não dá à luz, não tem voto na matéria. Olhe que tem...Mas sobre este "voto na matéria" o Dr. José de Magalhães pode-lhe responder.
5. Sabiam que à 6ª semana de gravidez já se pode ouvir, com clareza e facilidade, o bater do coração de um bebé?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Isso não me interessa pois não é um ser humano". Só que nem V. Exa. nem o Dr. José Magalhães responderam assim, porque sabem que não podem afirmar isto...!!!
6. Sabiam que à 7ª semana já são visíveis as feições labiais do bebé, incluindo boca e língua, que os olhos já têm retina, que o bebé já se mexe e já tem um tipo de sangue diferente do da Mãe?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Isso não me interessa pois não é um ser humano".Só que nem V. Exa. nem o Dr. José Magalhães responderam assim, porque sabem que não podem afirmar isto...!!!
7. Sabiam que à décima semana o coração do bebé é muito parecido com o de um recém nascido e que todos os órgãos do bebé já estão formados, precisando apenas de crescer?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Isso não me interessa, pois não é um ser humano".Só que nem V. Exa. nem o Dr. José Magalhães responderam assim, porque sabem que não podem afirmar isto...!!!
8. Sabiam que na Idade Média, quando o aborto era permitido, o era com base na ideia que cada espermatozoide era um ser humano em potência e que utilizava apenas o corpo da mulher para se desenvolver, não se estabelecendo, assim, a distinção entre essa célula e o embrião?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Isso não me interessa. O que me disseram é que tudo não passa de um preconceito religioso, e portanto, é isso que eu repito".
9. Sabiam que quando os cientistas, nomeadamente em Inglaterra, tomaram conhecimento da realidade, de imediato iniciaram um movimento do sentido de não ser permitido o aborto (e que, portanto, não se tratou de um movimento religioso?)?
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Isso não me interessa. O que me disseram é que tudo não passa de um preconceito religioso, e portanto, é isso que eu repito".
10. Como se poderá justificar, de um ponto de vista lógico e racional (que é aquele a que V. Exas. nos habituaram) que, sem que seja necessário apresentar qualquer justificação e até independentemente da vontade do pai, se possa interromper este trajecto que, naturalmente levaria este novo ser VIVO (tão vivo como qualquer outro ser vivo da natureza) e HUMANO (tão humano com eu ou V. Exas.) que já existe, tem coração que bate e corpo que sente a dor, ao nascimento? Se este novo ser humano existe, nao percebo como se pode deixar à consciência de cada um fazer-lhe parar o coração que já bate.
Quem não considera um aborto um acto incorrecto teria que responder, para ser coerente: "Isso não me interessa. Eu posso decidir quem vai ser feliz ou não; quem vai ser pobre ou rico; quem vai ser amado ou não; quem vale a pena que viva ou não. Eu tenho essa capacidade visionária, eu tenho esse poder". Não preciso de lhe lembrar onde e quando é que este tipo de raciocínio já foi aplicado, pois não...!!!???
Deixe-me que lhe diga que considero vergonhoso que qualquer país tenha como resposta para as grávidas em dificuldade: "Vá ali ao hospital, faça um aborto e depois vá para casa descansada". Sei que o acto em causa traumatiza fortemente quem o pratica e a sua legalização não elimina esse trauma.
Defendo uma sociedade solidária, que apoie as pessoas em maiores dificuldades e que não as abandone e as empurre para uma cama de hospital para fazer um aborto.
Considero que o Estado falha quando empurra uma mulher para o aborto e não lhe pergunta e não lhe proporciona o que ela necessitaria para não abortar.
Mas se calhar sou muito exigente...!!!
Luís Gagliardini Graça
publicado por quadratura do círculo às 18:47
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