Quinta-feira, 2 de Novembro de 2006

Amora da Silva - Doutores e engenheiros

Uma das nossas marcas lusitanas é a doutorice. E com a facilidade que hoje em dia se tiram cursos "superiores" o número aumentou consideravelmente. Há anos promoveu-se a doutorice quando um qualquer ministro da educação se lembrou que indivíduos com o 5º ano do liceu apenas ou com mais dois anos de um cursi do magistério primário e outros equivalentes lhe bastaria um ano para se licenciarem o que significa ficarem doutores. Foram aos milhares que por esse país fora se licenciaram num ano sem precisarem sequer de deixar de trabalhar. Parece anedota mas não é. O Instituto Piaget foi, então, uma autêntica fábrica de doutores altamente qualificados, quero dizer, classificados. Com tais altas competências assim adquiridas houve ganhos
incomparáveis: Para o país que melhorou consideravelmente as estatísticas no que respeita à % da população com estudos superiores; para os próprios doutores que ascenderam nas respectivas carreiras com salários muito superiores que lhes permitiu reformarem-se (sim porque uma boa parte deles se encontrava no fim da profissão) com confortáveis pensões e por a partir de então terem o não dispiciendo direito de serem tratados por Doutor. Isto que fica dito, para os mais distraídos, não é anedota. É mesmo assim e pode ser confirmado. O que já não tenho dados para confirmar são as notícias que li nos jornais, e aí a gente já sabe que tem de se pôr de pé atrás, foi que algumas Universidades (ou seriam Institutos? mas parece que estes acabaram, como acabaram os bacharéis) estavam a admitir muitos jovens que não tinham o 9º ano de escolaridade porque não havia alunos para fazer turmas. Ora, aí está uma boa maneira de resolver o problema dos alunos que não conseguem concluir a escolaridade obrigatória: matriculam-se na Universidade! Eu próprio fico um pouco confundido ao escrever isto porque como tenho um pouco a tendência de ficcionar fico com dificuldade em distinguir a ficção da realidade.
Mas ter um grau é importante e não o mencionar quando se tem constitui um insulto. Este é um dos menores que, por exemplo, o Dr (dizem que o conseguiu à rasca com um dézito) Alberto João Jardim usa quando as coisas não lhe correm de feição. Foi assim que, em tempos santanistas, se referiu ao Sr. Silva e agora se refere a esse Sr Sócrates. E na verdade o Dr Alberto João Jardim tem razão porque quando se retira o título fica apenas a pessoa como que despida e a nudez com que chegamos ao mundo é o que constitui a nossa natureza comum. E depois um título não tem que ter conteúdo funcional como se prova  com o caso do sr Major Valentim que é um civil mas que ostenta garbosamente o título de Major. Nem é imaginável que alguém possa dizer, referir, chamar sr Valentim. Só por falta de respeito. E se a ética civil é respeitável, da ética militar nem se fala. Porque o tempo em que «ou há moral ou comem todos» já passou. Agora há uma ética para cada profissão, para cada instituição, uma ética para cada regime: Uma ética desportiva, uma ética médica, uma ética republicana, uma ética monárquica, uma ética partidária. E como o senhor Valentim, perdão, Major Valentim sabe existe uma ética autárcica que Kant teorizou na Metafísica dos Costumes. Mas não se apresse sr Major a comprar o livro porque a fonética às vezes engana.
P.S.
Nem de propósito acabei de ver num canal de televisão um homem que não é Dr.
mas é presidente da maior instituição portuguesa - o Benfica - a condecorar o seu homónimo do Futebol clube do Porto com o título de Engenheiro-Chefe.
Já que os Tribunais os não julgam, o povo os vai julgando.
Amora da Silva
publicado por Carlos A. Andrade às 19:00
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