Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2006
A eleição directa do presidente do PSD e dos membros que fazem parte integrante da Comissão Política Nacional deste partido, a ser votada em congresso extraordinário no próximo mês de Março, poderá vir a funcionar como a pedrada no charco em que mergulha, actualmente, a direita política portuguesa, com especial relevo para o partido social-democrata.
O desempenho do maior grupo parlamentar da oposição face às políticas adoptadas pelo presente Executivo é praticamente nulo, se tivermos em conta a situação de crise que o País atravessa e a necessidade premente em se estabelecer uma política de consensos entre as várias forças partidárias com assento parlamentar, a bem da estabilidade social e do crescimento económico. A ausência de uma linha de orientação que vise a crítica construtiva e a criação de propostas alternativas às apresentadas pelo Governo, credíveis e elaboradas com rigor, com base no estudo aprofundado dos dossiers, é por demais evidente, chegando-se mesmo a preferir a via do acordo palaciano ou da conversa de alcova a que, certos órgãos da comunicação social, também não são alheios. Em contrapartida, é produzida uma oposição de discordância e de ataque sistemático a toda e qualquer iniciativa governamental levada a cabo, quer se insira no âmbito da reforma da administração pública, da política orçamental, do incentivo ao investimento ou de qualquer outro.
Esperará, porventura, o líder, neste congresso, vir a ser aclamado pelos êxitos obtidos nos dois anteriores actos eleitorais, vitórias fictícias se tivermos em conta os aspectos conjunturais da política partidária, de diferentes naturezas, que rodearam cada um destes processos. Desta vez, o rei vai nu. Segue, desprovido dos paramentos que poderiam legitimá-lo na cadeira do poder até às próximas legislativas, a caminho do princípio do fim de uma liderança que desde o início se anunciava de transição. Insistir em Marques Mendes na liderança de um partido que encontra uma forte contestação interna por parte de militantes, de certo modo, históricos dentro do partido, é remar contra a maré, contra a inevitabilidade de um reposicionamento à direita deste partido, a chamada direita neo-liberal ou populista que encontra eco junto de um extracto social emergente na política, mas já em número assinalável na nossa sociedade. Luís Filipe Menezes, sendo um dos seus mentores, tem surpreendido pela positiva através das suas incursões argumentativas em espaços televisivos, não destituídas de critério e razoabilidade.
Fernanda Valente