Terça-feira, 10 de Janeiro de 2006
Certamente avisada a partir do Brasil, a SIC fez deslocar uma equipa de reportagem, no passado dia 2, para cobrir a chegada ao aeroporto da Portela,
de uma importante personalidade da nossa sociedade: o presidente do Benfica.
Esta reportagem foi transmitida em horário nobre, no noticiário das 20,00 horas, e nela vimos um senhor obeso rodeado por um grupo de rapazes (guarda pretoriana do tal presidente) que, por encomenda, deu um estalo na cara do tal obeso, que por vez teria dado um empurrão, no aeroporto de partida, ao tal senhor presidente. Para dar mais colorida à cena, foi tudo passado na presença de um polícia que nem sequer mexeu as pálpebras dos olhos.
Em fim, uma troca de cortesias, entre pessoas educadas e de bem. A SIC , por sua vez, cumpriu a nobre missão de informar os portugueses sobre um assunto tão importante como os aumentos na Função Pública, as manobras da Iberdrola na EDP, o preço do petróleo, etc.
Os meandros da história dizem respeito à contratação de um jogador de futebol do falido Vitória de Setúbal para o Benfica. O Correio da Manhã (3 janeiro) insere uma notícia (suponho que não desmentida) sobre a contratação do jogador do Vitória de Setúbal, no chamado mercado de inverno.
Trata-se da narrativa de uma história que não fica nada a dever às histórias sicilianas: neste caso como já vimos não houve troca de tiros, o cerimonial ficou-se pela troca de cortesias na Portela.
A generalidade dos órgãos de comunicação social, com poucas excepções, abordou o acontecimento como algo normal e dentro dos padrões da decência. Desta excepções, mereceu uma referência o atento comendador Marques de Correia (Única-Expresso de 7 de Janeiro).
Tudo isto, e algo mais (recentemente o presidente do Benfica apostrofou o presidente dos dragões de mafioso e em tempos já se tinha referido à existências de empresários gangsters) acontece com toda a normalidade no planeta do futebol.
Para facilitar a compreensão desta fotografia que reflecte a realidade em que vive há muito o futebol português, convêm esclarecer que o nosso futebol é o paradigma de uma actividade em que os fins justificam os meios todos os meios! que tem usufruído do beneplácito e conivência de governos e autarcas, e a que teimamos em chamar desporto.
Para não desmoralizar os mais crédulos, deve reconhecer-se, que ainda não atingimos os padrões éticos do futebol brasileiro e de outros países da América Latina.
No planeta do futebol os casos mais extraordinários e invulgares (frequentemente à margem, ao lado e acima das leis da República) constituem a normalidade e os dirigentes dos clubes encontram sempre justificação e explicação para tudo.
Recentemente a revista Visão (8 de Dezembro de 2005) resolveu fazer uma pequena incursão ao planeta do futebol, tendenciosamente intitulada Os Podres" do Futebol Português, onde timidamente são afloradas algumas práticas, cito: Os pequenos copiam as chico-espertices dos famosos ... As SADs repetem esquemas velhos, sob uma aparente legalidade.
Atento e preocupado, o governo de Sócrates já pôs em marcha o chamado Congresso do Desporto e o Secretario de Estado da Juventude e do Desporto já foi adiantando que está empenhado em encontrar um sistema de financiamento para o Desporto (está a falar de futebol, claro, mas é sempre de bom tom enganar os distraídos), mas sem gastar um euro.
Trata-se da conhecida fórmula usada para o Euro 2004: nem mais um euro para o Euro, que deu cobertura a um autentico regabofe.
Os adeptos da bola podem dormir descansados, o governo tudo fará para que o circo continue, pois a crise não irá afectar os rios de dinheiro que correm no planeta do futebol.
J. Gomes Gonçalves